DA TEOLOGIA DA ENXADA AO MST: CONFLITOS, (RE)OCUPAÇÕES E AS EXPERIÊNCIAS DE REFORMA AGRÁRIA DO PEBA E DO LAMEIRÃO, DELMIRO GOUVEIA, ALAGOAS, SERTÃO DO SÃO FRANCISCO, 1982-1989.
Reforma agrária, assentamento, Alagoas, Peba e Lameirão
Esta pesquisa estuda as experiências, estratégias e movimentos sociais que resultaram na criação de assentamentos procedentes de disputas fundiárias e sociais em torno da reforma agrária, no município de Delmiro Gouveia, Alagoas, Sertão do Rio São Francisco, durante a década de 1980. Experiências protagonizadas por trabalhadores(as) rurais sem terra, setores progressistas da Igreja Católica e movimentos sociais do campo, cujas trajetórias revelam um histórico de resistência religiosa, popular e política, balizadas por conflitos, (re)ocupações, assentamentos e mobilizações pelo direito ao acesso à terra das então fazendas Peba e Lameirão, entre 1982 e 1989. Delimitação temporal iniciado em 1982, por conta da participação dos trabalhadores rurais sem terra da região no Seminário Rural da Paraíba – proposta de evangelização inspirada na Teologia da Enxada, um desdobramento da Teologia da Libertação. Recorte estendido a 1989, quando, após um conjunto de experiências, movimentos e disputas entre os sem terras, os latifundiários e órgãos estaduais e federais, ocorreu a constituição dos assentamentos Peba e Lameirão. Objeto de estudo delineado a partir da análise da historiografia e das fontes – escritas, orais e fotográficas – disponíveis no atual presente histórico institucional, científico e de pandemia. Nesse contexto, foram coletadas, registradas e analisadas entrevistas junto aos participantes das referidas experiências, com uso da metodologia da história oral; analisado jornais, informativos e impressos, de comunicação popular; discutidos registros fotográficos de acervos pessoais de assentados; e, em particular, examinados correspondências, relatórios, documentos cartoriais e outros registros estatais, públicos e oficiais produzidos, coletados e/ou enviados ao Sistema Nacional de Informações (SNI) que, através da rede estabelecida pela comunidade de órgãos de segurança e informação, conferiu atenta vigilância institucional a questão agrária e social– tratadas como caso de polícia e de segurança nacional. Assim, esse estudo descortina a teia de relações cultivada pelos sem terra junto as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Pastoral Rural, Sindicatos dos Trabalhadores/Trabalhadoras Rurais (STTRs) e, junto a centrais e movimentos sociais nacionais, a exemplo da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Em síntese, a análise desse contexto, experiências e movimentos ampliam a compreensão de como os(os) trabalhadores(as) rurais sem terra semearam, em seu fazer-se, estratégias de resistência, pertencimento e consciência social tecidos na luta pelo direito a terra. Experiências que resultaram na formação dos assentamentos Peba e Lameirão. Primeiros territórios de reforma agrária constituídos a partir das mobilizações sociais do campo a partir do Sertão de Alagoas, próximo ao Rio São Francisco. Territórios, trajetórias e percursos fecundos de sementes, cultivos e pontos de polinização dos movimentos sociais do campo na luta pelo direito à terra, contra o latifúndio e em prol da reforma agrária.