MODELO GEOESPACIAL MULTICRITÉRIO PARA AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA HÍDRICA NO CONTEXTO DO DESASTRE SOCIOAMBIENTAL DE MINERAÇÃO URBANA EM MACEIÓ (AL)
Insegurança hídrica; Sistema de Informação Geográfica; Apoio à Decisão Multicritério; Análise de risco.
A insegurança hídrica afeta cerca de um bilhão e meio de pessoas em regiões vulneráveis à escassez de água em todo o mundo. Em contextos urbanos, mesmo com os avanços em infraestrutura e ampliação do acesso a novos mananciais, grande parte das cidades ainda enfrenta desigualdades significativas na oferta de serviços de água adequados e confiáveis. Esse problema torna-se ainda mais crítico em Maceió (AL), Brasil, onde o colapso causado pela mineração de sal-gema resultou no maior desastre socioambiental urbano do mundo, provocando subsidência do solo em cinco bairros da capital. Como consequência, milhares de pessoas foram realocadas para áreas adjacentes ou outros bairros, intensificando o adensamento populacional e sobrecarregando serviços públicos já deficitários. Embora existam estudos voltados à caracterização social e territorial dessas áreas, a insegurança hídrica decorrente do desastre ainda não havia sido explorada de forma integrada e holística. Assim, este estudo propôs um modelo geoespacial multicritério para classificar os níveis de segurança hídrica em escala intraurbana de Maceió. A pesquisa adotou uma abordagem multimetodológica, combinando Análise Fatorial Exploratória (AFE), empregada para reduzir a dimensionalidade das variáveis,e a integração entre Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e o método multicritério FITradeoff, voltado à problemática de classificação. Foram inicialmente identificadas 67 variáveis críticas à avaliação da segurança hídrica urbana, consolidadas em 22 critérios organizados em quatro dimensões (humana, econômica, ecossistêmica e de resiliência), com variação temporal entre 2010 e 2022. A metodologia foi aplicada por bairro, permitindo comparar os cenários antes (2010) e após (2022) o desastre iniciado em 2018. Essa análise possibilitou compreender como os impactos do desastre acentuaram desigualdades socioespaciais e agravaram as condições ambientais propícias à segurança hídrica da cidade. O modelo proposto oferece uma ferramenta visual de apoio à gestão pública e à sociedade atingida, auxiliando na identificação dos bairros expostos à insegurança hídrica e na formulação de estratégias mais eficazes de gerenciamento de risco e planejamento hídrico urbano. Além disso, o modelo apresenta potencial de replicação em outras regiões do Brasil e do mundo que enfrentam desafios semelhantes de vulnerabilidade hídrica e urbana.