Análise da influência dos índices do oceano Atlântico sobre os níveis dos reservatórios de usinas hidrelétricas brasileiras
Variabilidade climática; Reservatórios hidrelétricos; ENSO; Atlântico Tropical Sul (TSA); Atlântico Tropical Norte (TNA); Correlação cruzada.
A matriz elétrica brasileira destaca-se mundialmente por sua expressiva participação da energia hidrelétrica, que responde por mais da metade da geração nacional, tornando o país altamente dependente dos recursos hídricos e, consequentemente, vulnerável à variabilidade climática. A oscilação dos níveis dos reservatórios está diretamente ligada à distribuição e intensidade das chuvas, influenciadas por fenômenos oceânicos como o El Niño–Oscilação Sul (ENSO) e as anomalias de temperatura da superfície do Atlântico Tropical Sul (TSA) e do Atlântico Tropical Norte (TNA). A ocorrência de eventos extremos, como secas prolongadas, pode comprometer a segurança energética, elevar custos e exigir o acionamento de usinas térmicas, agravando impactos ambientais e econômicos. Nesse contexto, compreender a relação entre os principais índices climáticos oceânicos e os níveis dos reservatórios é fundamental para o aprimoramento do planejamento e da operação do setor hidrelétrico brasileiro. Este trabalho tem como objetivo analisar a influência dos índices TSA, TNA e ENSO 3.4 sobre os níveis observados dos principais reservatórios de usinas hidrelétricas do país, utilizando séries históricas de dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) referentes ao período de 1999 a 2024. Para isso, foram coletados dados mensais dos índices oceânicos e dos níveis de 131 reservatórios distribuídos pelas cinco grandes regiões do Brasil, selecionados conforme critérios de representatividade e continuidade das séries. A metodologia empregada baseou-se na aplicação da análise de correlação cruzada, que permite investigar defasagens temporais entre os índices oceânicos e a resposta hidrológica dos reservatórios, considerando diferentes lags de 1 a 12 meses, positivos e negativos. A análise foi conduzida tanto para séries individuais de reservatórios quanto para agrupamentos regionais, possibilitando a identificação de padrões espaciais e temporais de resposta às anomalias climáticas. Como resultados esperados, busca-se identificar o lag típico e a intensidade da associação entre as oscilações oceânicas e os níveis dos reservatórios, bem como mapear as regiões de maior sensibilidade climática, fornecendo subsídios para a gestão adaptativa dos recursos hídricos e energéticos. O estudo contribui para suprir lacunas na literatura ao utilizar diretamente os níveis observados de reservatórios como variável-síntese do balanço hidrológico-operacional, além de abordar de forma integrada as escalas temporais e regionais dos impactos climáticos sobre o setor elétrico brasileiro. Os achados poderão auxiliar formuladores de políticas públicas e operadores do sistema na definição de estratégias de adaptação e mitigação de riscos em cenários de variabilidade e mudança climática.