Falas do professor e escrita em duplas: a mediação socioconstrutivista durante a produção textual colaborativa no início dos anos 90
Intervenção docente, Socioconstrutivismo, Produção textual, Alfabetização.
O ensino da língua escrita, especialmente na produção textual, destaca-se, na Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2018), pelo foco no trabalho com gêneros textuais considerados em suas práticas de linguagem com função social. Essa perspectiva já estava presente em documentos anteriores, como os Parâmetros Nacionais Curriculares (Brasil, 1997), refletindo orientações didáticas socioconstrutivistas (Jolibert, 1994; Teberosky, 1994). Tal abordagem enfatiza, por exemplo, a produção colaborativa — entre colegas e professor — de diversos gêneros desde o 1º ano do Ensino Fundamental, incluindo listas, agendas, receitas, cantigas e parlendas, além de conceber o ato de escrever como um processo composto por etapas como planejamento, textualização e revisão. Partindo dessa perspectiva, este estudo propõe analisar as intervenções de um professor alfabetizador durante a produção de diferentes gêneros textuais (lista, história em quadrinhos, parlenda e notícia de jornal). A análise foi realizada a partir de material coletado em 1989, período inicial da difusão dessas práticas no Brasil, em uma escola particular que teve papel pioneiro na inserção do socioconstrutivismo nos documentos curriculares oficiais. Nesse contexto, acompanhou-se uma turma do 1º ano do Ensino Fundamental, onde foram registradas nove tarefas de produção textual envolvendo o mesmo aluno, que interagia em dupla com colegas e com o professor. O foco principal da análise concentrou-se nas falas do professor, especialmente nas atividades metalinguísticas, utilizando categorias analíticas para descrever suas verbalizações do ponto de vista linguístico-enunciativo. Com base na proposta de Calil (2016) sobre comentários relativos a reconhecimentos de objetos textuais durante a construção de manuscritos escolares, os resultados indicam que as intervenções do professor estavam condicionadas à configuração teórica que orientava sua prática — baseada na psicogênese da língua escrita (Ferreiro e Teberosky, 1985). Além disso, observou-se que o não entendimento do princípio alfabético pelos alunos apresentava limitações importantes para a produção textual. Este aspecto levanta questionamentos sobre a concepção de alfabetização centrada em textos, uma vez que a ênfase sobre a escrita de um determinado gênero textual pode se sobrepor ao necessário domínio das correspondências grafo-fônicas.