Além da dor: violência de gênero e insubmissão na prosa de Conceição Evaristo
Conceição Evaristo; Contos; Violência de gênero; Interseccionalidade
O objetivo desta dissertação é realizar uma análise interseccional das violências sofridas pelas personagens femininas nos contos “Shirley Paixão”, “Aramides Florença”, “Isaltina Campo Belo” e “Mary Benedita”, do livro Insubmissas lágrimas de mulheres, de Conceição Evaristo (2016). Parto da conceituação de teóricas como Kimberlé Crenshaw, Carla Akotirene sobre interseccionalidade e Heleieth Saffioti, Judith Butler e Françoise Vergé sobre violência de gênero com o objetivo de analisar, à luz das experiências das mulheres representadas nos contos escolhidos, as práticas de violência perpetradas contra mulheres negras, investigando como as vertentes interseccionais de gênero, raça, classe social e sexualidades se entrelaçam e afetam de maneira única e complexa as formas de opressão vivenciadas por elas. Na leitura dos contos, analisei como os estereótipos, baseados numa lógica determinista, naturalista e biologizante, são formas hegemônicas de dominação e opressão dos corpos-vida das mulheres. As narrativas revelam as condições em que mulheres negras, no contexto patriarcal, misógino e antidemocrático, são submetidas a situações de violências, em grande parte sustentadas pelo Estado e por instituições como a família e a igreja. Além disso, suas histórias articulam a lembrança e a superação, e representam a dor e a violência pelas quais diversas e diferentes mulheres negras são submetidas, pois, ao contar suas histórias-memórias, históriasdenúncias, as narrativas de Insubmissas lágrimas de mulheres dão visibilidade a uma história coletiva de mulheres negras vítimas de violência cujos vieses de raça, gênero, sexualidades e classe se cruzam, intensificando as opressões vivenciadas e vulnerabilizando ainda mais suas vidas.