GÊNERO, MEMÓRIA, SENTIDOS: posições-sujeito mulher em músicas de arrocha
Análise do Discurso. Posição-sujeito. Gênero Arrocha. Relações de gênero.
O arrocha foi o gênero musical que mais tocou nas playlists dos nordestinos, durante o período de isolamento físico provocado pela pandemia de Covid-19 (Correio, 2021). Segundo esse veículo de informação, dos 20 artistas mais escutados na Bahia, três eram do arrocha, gênero cujas letras evocam um estado de humor que mistura sofrimento e carência afetiva. Dessas 20 músicas que estavam no topo das preferências na região Nordeste, seis eram do cantor e compositor Tierry. Enquanto analistas de discurso, fomos tomados pela inquietação de investigar quais efeitos de sentido são produzidos e circulam a partir desse gênero musical, já que os discursos materializados nas letras desse gênero são um fenômeno que precisa ser questionado, pois essas representações reforçam determinados valores, como a objetificação e a subordinação da mulher. Consequentemente, isso contribui para a naturalização de determinados papéis sociais que marginalizam e limitam a mulher na sociedade contemporânea, em meio a um consumo musical que, muitas vezes, se dá de maneira desatenta por boa parte da população. Considerando, com Pêcheux (1995), que as palavras retomam a sentidos preexistentes, surgiram alguns questionamentos: Como se constitui a posição-sujeito mulher nas músicas cantadas por Tierry? Quais discursos atravessam e constituem essas músicas para (res)significar a mulher? Dito isso, nosso objetivo geral é investigar efeitos de sentido do sujeito-mulher em distintos processos de subjetivação na sociedade contemporânea, considerando o gênero musical arrocha. Esta pesquisa mobiliza os dispositivos teórico-analíticos da Análise materialista do Discurso, partindo das proposições inauguradas por Michel Pêcheux, na França, e desenvolvidas por Eni Orlandi, no Brasil. Dada a especificidade do objeto de análise, são mobilizados estudos de gênero (Butler, 2015), considerados numa perspectiva discursiva. À luz das análises realizadas, podemos observar que as sequências discursivas reproduzem ideologias dominantes relacionadas às relações de poder entre os gêneros, assim como produzem sentidos de objetificação sexual e de infidelidade da figura feminina. Por sua vez, há discursividades que produzem efeitos de sentido de vulnerabilidade masculina, o que subverte parcialmente os papéis tradicionais de gênero.