O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) representa uma das principais causas de morbimortalidade no Brasil e no mundo, estando intimamente relacionado a mecanismos de inflamação e estresse oxidativo (EO). Estratégias nutricionais voltadas para a prevenção secundária têm se mostrado fundamentais para a modulação desses processos, sobretudo quando apoiadas em ferramentas educativas simples e de baixo custo, adequadas ao contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse sentido, este estudo teve como objetivo avaliar o impacto de uma intervenção nutricional baseada na cartilha da dieta cardioprotetora brasileira (DICA-BR) sobre marcadores antioxidantes e inflamatórios em pacientes pós-IAM acompanhados em hospitais de referência do SUS em Alagoas. Trata-se de um ensaio clínico randomizado aleatorizado, de desenho paralelo (1:1), que incluiu 117 voluntários sobreviventes de IAM, assistidos em serviços de referência do SUS de alta complexidade, do estado de Alagoas: Hospital Geral do Estado (HGE) e Hospital Metropolitano de Alagoas (HMA). Foram randomizados em grupo intervenção (n=57), que recebeu orientações nutricionais na alta hospitalar com a cartilha DICA-BR e grupo controle (n=60), que recebeu as orientações nutricionais de alta padrão dos hospitais em que foram elegidos. Foram analisados dados sociodemográficos, antropométricos, clínicos e laboratoriais em dois momentos (baseline e seis meses após a alta), abrangendo antioxidantes plasmáticos (vitamina C, vitamina D, Status Antioxidante Total do Plasma (TAS), superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e glutationa peroxidase (GPx) e o marcador inflamatório proteína c-reativa (PCR). As análises estatísticas incluíram estatística descritiva para caracterização da amostra, teste de Mann-Whitney para comparações entre subgrupos, modelos de Equações de Estimativa Generalizada (GEE) para avaliar efeitos longitudinais intra e intergrupos, além de regressão linear múltipla (método backward) para explorar a influência de variáveis clínicas e sociodemográficas nos desfechos. O nível de significância adotado foi de 5%. Os resultados evidenciaram diferenças basais em vitamina C e D entre os grupos, sendo mais elevada no grupo intervenção, e, longitudinalmente, observaram-se incrementos significativos de TAS e SOD em ambos os grupos (p<0,0001), bem como superioridade sustentada da GPx no grupo intervenção (p=0,048) e uma interação tempo×grupo significativa para a CAT (p=0,001), indicando efeito diferenciado da intervenção. A vitamina C apresentou depleção significativa ao longo do seguimento (p<0,0001), enquanto a vitamina D aumentou em ambos os grupos com interação significativa (p=0,031). A PCR reduziu-se de forma clinicamente relevante em ambos os grupos (p<0,0001), sem diferença entre eles. Conclui-se que a intervenção nutricional com a cartilha DICA-BR foi factível e contribuiu para a melhora seletiva de mecanismos antioxidantes, especialmente no eixo glutationa, além de favorecer trajetórias diferenciadas da resposta enzimática antioxidante, o que reforça o potencial da educação alimentar cardioprotetora como ferramenta estratégica de prevenção secundária no SUS. Os achados ressaltam a importância de ampliar o tempo de acompanhamento, incluir desfechos clínicos e explorar novos biomarcadores, como os derivados da microbiota intestinal, para aprofundar a compreensão da relação entre dieta, inflamação e EO em pacientes pós-IAM.