ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS E DESFECHOS DE SAÚDE MENTAL: ANÁLISES SECUNDÁRIAS DE ENSAIOS CLÍNICOS
Ingestão de Alimentos; Alimentos ultraprocessados; Saúde Mental; Ansiedade; Cognição.
A saúde mental é um componente essencial do bem-estar geral, e sua relação com o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) tem ganhado destaque nas pesquisas. Esta dissertação, composta por dois artigos, investigou essa relação em diferentes grupos populacionais, buscando preencher lacunas na literatura. O primeiro artigo, intitulado "Associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o desempenho cognitivo entre adolescentes de cidades subdesenvolvidas no Brasil", teve como objetivo avaliar a associação entre o desempenho cognitivo e o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) em adolescentes residentes em cidades do interior do Nordeste brasileiro. Foram incluídos 116 adolescentes, com idade média de 14 anos, dos quais 50 (43,1%) apresentaram baixo desempenho cognitivo. A ingestão energética média foi de 1973,5 kcal, com 24,2% provenientes de AUP. Os participantes com baixo desempenho cognitivo consumiram 26,5% (IC95%: [22,2; 30,7]%) da ingestão energética diária de AUP, comparado a 22,5% (IC95%: [18,8; 26,2]%) daqueles com desempenho cognitivo médio-alto (P = 0,17). Não houve diferenças significativas na ingestão total de energia e macronutrientes entre os grupos. Apesar do consumo de AUP ser semelhante à média brasileira, não foi encontrada uma associação significativa entre o consumo de AUP e o desempenho cognitivo nesta amostra de adolescentes de baixa renda. O segundo artigo, intitulado "Associação entre o consumo de AUP e transtorno de ansiedade generalizada em adultos com obesidade interessados em perda de peso", teve como objetivo avaliar a relação entre os sintomas do transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e o consumo de AUP em adultos com obesidade que buscavam perder peso. O estudo transversal incluiu 148 adultos (19-59 anos) recrutados em uma universidade brasileira. O consumo alimentar foi avaliado por meio de três recordatórios de 24 horas, classificados de acordo com a classificação NOVA. O TAG foi medido utilizando a Escala de Transtorno de Ansiedade Generalizada (GAD-7). Modelos de regressão linear ajustados para fatores de confusão, como sexo, idade, status econômico e nível de atividade física, foram utilizados para analisar a associação entre os sintomas de ansiedade e o consumo de AUP. Escores mais altos na GAD-7 foram associados a um maior consumo de AUP (β = 0,445%; IC95%: 0,042–0,849; p = 0,031), representando 22,8% da ingestão energética total. Não houve associação significativa entre ansiedade e consumo de sódio, açúcar ou gordura saturada. Adultos com obesidade interessados em perder peso e que apresentavam sintomas mais elevados de ansiedade consumiram mais AUP, sugerindo uma relação entre ansiedade e padrões alimentares. Isso indica que o estado emocional pode influenciar as escolhas alimentares nesse grupo. Em síntese, o consumo de AUP impacta diferentemente cada grupo: em adolescentes de baixa renda, não houve relação com desempenho cognitivo, mas foi associado a maiores sintomas de ansiedade em adultos com obesidade. Fatores contextuais e individuais desempenham um papel crucial nessa relação, e estudos longitudinais são necessários para entender melhor as causalidades e mecanismos envolvidos.