Estudos observacionais têm associado o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) a comportamentos alimentares inadequados e à ingestão desses alimentos como estratégia de conforto emocional. Apesar dessas evidências, pouco se sabe sobre como fatores psicocomportamentais influenciam a adesão a intervenções dietéticas que restringem o consumo de AUP, especialmente em indivíduos com obesidade. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo analisar a influência da adição por alimentos, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), imagem corporal e atitudes alimentares na adesão a uma intervenção nutricional com restrição de AUP em indivíduos com obesidade. Trata-se de uma análise secundária de um ensaio clínico randomizado, paralelo, com dois braços de intervenção, conduzido entre setembro de 2022 e outubro de 2024. A amostragem foi não probabilística, por conveniência, composta por adultos de 19 a 59 anos, de ambos os sexos, que atendiam pelo menos dois dos três critérios diagnósticos de obesidade e apresentavam peso corporal estável há um mês. Não foram incluídos indivíduos em uso de medicamentos crônicos, impossibilitados de realizar antropometria ou calorimetria indireta, mulheres na menopausa, grávidas ou lactantes e aqueles que realizaram cirurgia bariátrica. A adição por alimentos foi avaliada utilizando a modified Yale Food Addiction Scale 2.0, as variáveis psicocomportamentais foram avaliadas por instrumentos validados: a Escala de Silhuetas de Kakeshita para avaliar a imagem corporal, o Teste de Atitudes Alimentares e a escala 7 itens de TAG. A dificuldade autorreferida em seguir o plano alimentar foi aferida por escala Likert (0 a 10), o consumo percentual de AUP foi calculado por recordatórios alimentares, e o peso corporal foi aferido em quatro momentos diferentes. As análises estatísticas foram realizadas através de modelos lineares mistos, considerando grupo, momento e a exposição de interesse no baseline como efeitos fixos, e os indivíduos como efeito aleatório. A significância foi estabelecida em 5% (α = 0,05). Todas as análises foram conduzidas com auxílio do programa estatístico RStudio (The Posit Team, Boston, MA, USA) junto do software R (The R project, versão 4.5.1, Vienna, Austria), com os pacotes tidyverse, nlme, emmeans e ggplot2. A amostra final foi composta por 148 indivíduos (73 no RE-G e 75 no RE-AUP), com idade média de 31 anos e predominantemente do sexo feminino. No total, 43,2% apresentaram provável caso de TAG, 18,2% foram classificados com adição por alimentos e 25,7% tiveram escores de risco para atitudes alimentares disfuncionais. A análise revelou que a inclusão da interação tripla entre grupo*momento*TAG melhorou significativamente o ajuste do modelo para o desfecho da dificuldade em seguir o plano (p = 0.0317), permanecendo significativa após ajuste por máxima verossimilhança restrita (REML) (p = 0,029). De forma semelhante, a interação grupo*momento*percepção corporal também melhorou o ajuste para o desfecho de peso corporal (p = 0,0094; REML p = 0,01). Não foram observadas interações significativas para as demais variáveis psicocomportamentais em relação ao peso corporal, consumo percentual de AUP ou dificuldade autorrelatada em seguir o plano alimentar.