DINÂMICA DO COMPORTAMENTO DAS QUEIMADAS NA REGIÃO DA AMAZÔNIA LEGAL: UMA ABORDAGEM CLIMATOLÓGICA E DE PRODUTOS DE SENSORIAMENTO REMOTO
Queimadas; aprendizado de máquina; Sensoriamento Remoto
A floresta tropical amazônica, um dos ecossistemas mais importantes do planeta, cobre uma
vasta área da bacia amazônica. Esta área contém mais da metade das florestas tropicais do
mundo e desempenha um papel crucial na mitigação do aquecimento global como um gigantesco
reservatório de carbono. Historicamente, os incêndios na Amazônia têm estado associados a
eventos de seca e a atividades humanas. No cenário mais contemporâneo, a interligação entre
queimadas, desmatamento e períodos de seca tem resultado em aumentos alarmantes,
especialmente no ano de 2020. Consequentemente, os impactos de longo prazo desses incêndios
na vegetação e no solo ainda precisam ser melhor compreendidos. Em face aos desafios
resultantes das atividades antrópicas, como o aumento do desmatamento e os eventos climáticos
extremos, a Amazônia Legal precisa urgentemente implementar estratégias eficazes de
conservação. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa é analisar e ajudar na compreensão do
comportamento do fogo na região da Amazônia Legal entre os períodos de 2012 e 2023. Para
isso, utilizamos o produto Fire Radiative Power (FRP) com resolução espacial de 375m do
instrumento Visible Infrared Imaging Radiometer Suite VIIRS a bordo dos satélites National
Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) NOAA-20 e Suomi National Polar-orbiting
Partnership (SNPP) síncrono ao sol. Na análise de incêndios e clima, foram utilizadas variáveis
meteorológicas de reanálise do ERA5 com resolução horizontal de 0,25°. Os resultados dessa
pesquisa evidenciam padrões distintos entre o estado de Roraima e os demais estados da
Amazônia Legal. O FRP apresentou maior variabilidade entre julho e dezembro, exceto em
Roraima, onde a maior variabilidade ocorreu durante janeiro a junho. Os maiores picos de área
queimada durante os meses de julho a dezembro nas microrregiões de análise ocorreram a partir
de 2020, registrando aproximadamente 8 milhões de hectares em Altamira (PA), seguido por São
Félix do Xingu (PA), com cerca de 7 milhões de hectares, Apuí (AM), com aproximadamente 5
milhões de hectares, e Aripuanã (AM), com cerca de 2 milhões de hectares. Durante os meses de
janeiro a junho, o pico da área queimada ocorreu em 2019, na maioria dos municípios, com
aproximadamente 500 mil hectares em Caracaraí (RR), 300 mil hectares em Mucajaí (RR) e 100
mil hectares em Alto Alegre (RR). Com relação a duração dos fires, os estados do Pará,
Amazonas, Acre e Mato Grosso, apresentaram as maiores intensidades durante os meses de julho
a dezembro, principalmente a partir de 2017, ocorrendo durante os anos de El Niño (2019), como
também em anos de La Niña, como em 2017, 2021 e 2022. A frequência de registros de fire_id
ao longo do período de estudo revelou que o estado do Pará apresentou a maior incidência, com
o município de São Félix do Xingu registrando uma frequência de 12000, Altamira, Itaituba e o
norte de Rondônia apresentando uma frequência de 8000 cada, além disso, nesses municípios, a
maior parte das ocorrências foi atribuída a causas antropogênicas. A análise das variáveis
meteorológicas e da média mensal do NDVI nos meses de julho a dezembro de 2019, indica que
a área de vegetação nas microrregiões analisadas sofreu um declínio significativo, com o NDVI diminuindo de aproximadamente 0.46 em agosto para 0.30 em dezembro, associado à anomalia
de temperatura de aproximadamente - 5°C nos meses de julho a setembro, anomalia de umidade
relativa mais baixa (~ -17 %) principalmente em agosto, com registro da velocidade do vento em
aproximadamente 4 m/s e anomalia de vento mais significativa no estado do Pará (3 m/s),
principalmente em julho e agosto. Embora a umidade relativa tenha aumentado a partir de
outubro, favorecendo uma leve recuperação da vegetação, o NDVI continuou diminuindo,
refletindo os efeitos persistentes do estresse climático ao longo do período analisado. No estado
de Roraima, durante os meses de janeiro a junho de 2019, o NDVI registrou valores médios de
aproximadamente 0.28 em abril, 0.26 em maio e 0.32 em junho, indicando um declínio inicial
seguido por uma recuperação no último mês, associado a altas temperaturas principalmente de
janeiro a abril, com anomalia de temperatura mais intensa em março (-5°C), anomalia de vento
mais intensa nos meses de janeiro e fevereiro (~1.8 - 3.6) e baixa umidade relativa nos primeiros
meses do ano (~45% - 30%), principalmente em março.