INIQUIDADES EM SAÚDE NO BRASIL: EVIDÊNCIAS DE UMA REVISÃO SISTEMÁTICA COM METANÁLISE COMPARANDO POPULAÇÕES QUILOMBOLAS E NÃO QUILOMBOLAS
Indicadores de saúde. População remanescente de quilombos. Saúde da população brasileira.
Esta tese foi desenvolvida com objetivo de evidenciar as iniquidades sociais relacionadas aos determinantes em saúde. Para isso, foi incluído um capítulo de revisão de literatura visando apresentar os principais aspectos teóricos sobre essa temática e realizou-se uma revisão sistemática com metanálise, identificando estudos realizados no Brasil que produziram indicadores de saúde e, com estes, realizou-se uma análise comparativa segundo a condição de ser ou não ser pertencente à população quilombola. Esta última parte está apresentada sob a forma de um artigo original. A busca por publicações foi conduzida nas bases de dados PUBMED, SCIELO, LILACS, SCOPUS e Biblioteca Virtual em Saúde. Foram incluídos estudos transversais realizados no Brasil com foco em comunidades quilombolas e na população geral (não quilombola). Foram utilizados termos de busca cadastrados nos Descritores em Ciências da Saúde (DECS) e no Medical Sub Headings (MeSH). A busca dos estudos ocorreu em 15 de junho de 2024. A seleção dos estudos e extração dos dados foram realizadas de forma independente por dois pesquisadores. Foi utilizado o aplicativo Rayyan (https://www.rayyan.ai/) para seleção dos artigos por título e resumo e exclusão dos artigos duplicados. A qualidade metodológica dos estudos foi avaliada utilizando a ferramenta Effective Public Health Practice Project Quality Assessment Tool for Quantitative Studies (EPHPP). Na metanálise empregou-se o modelo de efeitos aleatórios de DerSimonian e Laird, com a transformação de duplo arcoseno. Para fins de metanálise, as análises estatísticas consideraram a população como quilombola e não quilombola. O desfecho primário foi a prevalência de hipertensão arterial sistêmica (HAS). As análises foram conduzidas no software Stata/SE 18.0 for Windows®. Foram encontrados 3.078 artigos da população quilombola, dos quais 17 compuseram a revisão sistemática. A HAS foi um dos principais indicadores investigados nesse público, com prevalências variando entre 26% a 61,7%. Outros desfechos incluíram: obesidade, síndrome metabólica e dislipidemia e problemas de saúde mental. Para a população não quilombola, foram encontrados 6593 artigos, dos quais 23 compuseram a revisão sistemática. A HAS foi também o desfecho mais prevalente (27%), seguido por excesso de peso (18%) e síndrome metabólica (9%). Para a metanálise foram incluídos oito artigos, respectivamente, para cada uma das populações investigadas. As prevalências combinadas de HAS, de acordo com a metanálise dos estudos envolvendo quilombolas e não quilombolas diferiu de forma significante (p=0,02). Nestes ela foi de 27% (IC 95%: 21%-33%) com alta heterogeneidade (I² = 99,9%). Já a população quilombola apresentou prevalência de 38% (IC95%: 31%-43%) também com alta heterogeneidade (I²=93,4%). Especula-se que a precariedade na qualidade de vida prevalecente em pessoas de populações submetidas a maior vulnerabilidade social, como ocorre entre os quilombolas, promove disparidades em relação a outras populações que aumentam o risco para desenvolvimento de morbidades, a exemplo da hipertensão arterial. Esse fato evidencia a necessidade de intervenções no âmbito das políticas públicas que sejam mais eficazes na redução das iniquidades sociais e que promovam a melhoria da qualidade de vida e saúde da população negra brasileira, particularmente dos povos quilombolas.