ETIOPATOGENIA DE DISTÚRBIOS DO NEURODESENVOLVIMENTO EM UMA SÉRIE DE CASOS COM INÍCIO PRECOCE
Distúrbios do neurodesenvolvimento; etiopatogenia; doença rara; genética médica; correlação genótipo-fenótipo.
Introdução: Os distúrbios do neurodesenvolvimento (DND) são condições caracterizadas por prejuízos no desenvolvimento do cérebro. São etiológica e clinicamente heterogêneos podendo comprometer a cognição, comportamento adaptativo, comunicação e habilidades psicomotoras. Os DNDs de origem genética são classificados como doenças raras (exceto a Síndrome de Down) e sua complexidade é um desafio para o estabelecimento do diagnóstico que, se tardio, impacta no início do tratamento específico o que resulta em piores prognósticos. A definição da etiologia dos DNDs é essencial para a compreensão dos mecanismos etiopatogênicos relacionados com essas condições. Objetivo:Estudar a etiopatogenia de distúrbios do neurodesenvolvimento em uma série de casos com início precoce. Metodologia: Foram incluídos 41 participantes, sem limite de idade, de ambos os sexos. Todos realizaram avaliação clínica e coleta de informações demográficas e familiais no Serviço de Genética Clínica do Hospital Universitário da Universidade Federal de Alagoas, integrante da rede EBSERH. O rastreio de genes causativos foi realizado por sequenciamento completo do exoma (SEC). A busca das variantes foi orientada de acordo com o quadro clínico e/ou padrão de herança sugerido pela história familiar de cada caso. A classificação das variantes foi baseada nas recomendações do American College of Medical Genetics and Genomics (ACMG). O sequenciamento de Sanger foi realizado como técnica complementar para confirmação da presença da variante e análise de segregação da variante candidata para cada família. Resultados e discussão: Os participantes deste estudo pertencem a 10 famílias distintas. Dos 41 avaliados clinicamente , 25 eram acometidos por DND e 16 eram familiares sem o fenótipo estudado. A idade variou entre dois e 58 anos de idade. A maioria das famílias eram naturais e procedentes da mesorregião do sertão alagoano e domiciliadas na zona rural. Treze participantes não tiveram acesso a assistência médica especializada até o início do presente estudo. Os seguintes DNDs foram diagnosticados: deficiência intelectual (DI) isolada ou sindrômica (n=15); DI e distúrbio motor combinados (n=4); DI e transtorno de aprendizagem combinados (n=2); e transtorno do espectro autista com dismorfismos (n=4). Em seis famílias foram identificadas, por SEC, seis variantes candidatas em seis diferentes genes previamente associados a DNDs. Dessas, duas co-segregaram nas famílias e foram classificadas como patogênicas e causadoras das condições; uma foi classificada como provavelmente patogênica e três foram classificadas como VUS (variante de significado incerto). Conclusões: Em 60% das famílias participantes foi possível identificar genes relacionados a diferentes DNDs. Em 20% das famílias foi possível estabelecer um diagnóstico etiológico. Em 40% das famílias, são necessários estudos adicionais (co-segregação familiar da variante e estudos funcionais) para o estabelecimento da etiologia das condições. Em 40% das famílias não foram identificadas variantes candidatas em genes conhecidos relacionados a fenótipos de DNDs.