SAÚDE MENTAL NA ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA: INSIGHTS DE UMA REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANÁLISE SOBRE ANSIEDADE E DEPRESSÃO
Esclerose Lateral Amiotrófica; ELA; Ansiedade; Depressão; Prevalência.
A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa progressiva e fatal, com sintomas motores e manifestações não motoras, como ansiedade e depressão, ainda pouco reconhecidas. Este trabalho buscou estimar a prevalência dos sintomas ansiosos e depressivos em pacientes com ELA por meio de uma revisão sistemática com metanálise. O protocolo foi registrado no PROSPERO (CRD42024537216) e seguiu as diretrizes PRISMA. As buscas, realizadas nas bases PubMed, Embase, Scopus e Web of Science até dezembro de 2024, seguiram o modelo CoCoPop. Incluíram-se estudos originais com diagnóstico confirmado de ELA, uso das escalas HADS, BDI, BDI-II, BAI ou subescalas M-HADS-A/D, análise estatística clara e aprovação ética. A triagem e extração dos dados foram feitas por dois revisores independentes, com verificação adicional, e a qualidade metodológica avaliada pelo checklist JBI. As meta-análises, realizadas no Jamovi 2.6, aplicaram modelo de efeitos aleatórios (DerSimonian–Laird) para estimar prevalências e heterogeneidade (I²), com resultados apresentados em forest plots e interpretados junto à síntese qualitativa. A análise qualitativa revelou que 50% dos estudos relataram sintomas de ansiedade acima do ponto de corte e 63,7% relataram sintomas de depressão acima dos limiares estabelecidos, com ampla variação entre os instrumentos utilizados. A prevalência agrupada estimada foi de 32,4% (IC95%: 15,8%–49,0%) para ansiedade e 39,9% (IC95%: 31,8%–46,3%) para depressão, ambas com heterogeneidade substancial entre os estudos (I² > 96%). Além disso, observou-se um grave déficit na descrição do uso de psicotrópicos: aproximadamente metade dos estudos não forneceu essa informação e, entre os que relataram, a maioria o fez de forma genérica ou ambígua, dificultando a interpretação clínica dos achados. Os resultados indicam que sintomas afetivos são frequentes na ELA, mas mal avaliados e ainda menos contextualizados em relação a fatores clínicos, farmacológicos e funcionais. Conclui-se que há uma necessidade urgente de padronização metodológica nas pesquisas sobre saúde mental em ELA, incluindo a validação de instrumentos específicos, a estratificação por características clínicas e demográficas, e o relato rigoroso sobre o uso de psicofármacos. Essas medidas são fundamentais para a geração de estimativas confiáveis e para o desenvolvimento de estratégias de cuidado integral que reconheçam a saúde mental como parte essencial do manejo multidisciplinar da ELA.