EFEITOS CENTRAIS DO CRACK: UMA ABORDAGEM EXPERIMENTAL E EPIDEMIOLÓGICA
crack, preferência condicionada de lugar, estresse oxidativo, ansiedade, depressão
O presente trabalho teve como objetivo conciliar evidências pré-clínicas e clínicas sobre os efeitos do crack avaliando, em modelo animal, seu impacto sobre a preferência condicionada de lugar (CPP), comportamento tipo depressivo e marcadores de estresse oxidativo, bem como sintetizar, por meio de revisão sistemática, a prevalência de ansiedade e depressão entre usuários da substância. No estudo experimental, camundongos Swiss machos foram expostos à fumaça de crack (0, 100, 200 ou 400 mg) em dois protocolos distintos de CPP (Protocolo 1: uma exposição a droga e o aparato ao dia por 5 dias consecutivos; Protocolo 2: uma exposição a droga e duas ao aparto ao dia e por 5 dias consecutivos). Os resultados mostraram que no Protocolo 1, a dose de 200 mg induziu aumento significativo do escore de preferência, configurando efeito reforçador, enquanto as demais doses não alteraram a preferência, sugerindo um padrão em U invertido. No Protocolo 2, não houve significância, possivelmente por extinção comportamental. No teste do nado forçado, todas as doses de crack aumentaram o tempo de imobilidade, indicando comportamento do tipo depressivo 24 horas após a retirada da droga. Bioquimicamente, observou-se aumento da atividade da catalase e redução dos grupos sulfidrila no hipocampo, sugerindo desequilíbrio redox, sem alteração significativa da lactato desidrogenase plasmática. A revisão sistemática (26 estudos; 9.428 participantes) estimou prevalências ponderadas de 30,4% para ansiedade e 31,9% para depressão, com medianas de 26,8% e 43,4%, respectivamente, predominância masculina e heterogeneidade metodológica. Esses resultados demonstram que o crack promove alterações neurobiológicas e comportamentais relevantes, e que sua dependência está fortemente associada a transtornos de ansiedade e depressão. Esperam-se novos estudos translacionais que correlacionem marcadores oxidativos com parâmetros comportamentais e clínicos, visando o desenvolvimento de intervenções terapêuticas integradas e personalizadas para essa população.