SERVIÇOS AMBIENTAIS E BENEFÍCIOS DA NATUREZA PARA AS PESSOAS DO MAIOR ARRANJO DE CONSERVAÇÃO DE BASE COMUNITÁRIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA |
Amazônia, co-manejo, conservação.
Os trópicos estão enfrentando as maiores taxas de degradação florestal globalmente, impulsionadas pela produção de commodities, silvicultura, agricultura de commodities e incêndios florestais, resultando em apenas 20% de florestas intocadas. Além disso, a superexploração de peixes e vertebrados terrestres pode levar à síndrome de floresta vazia, prejudicando os serviços ecossistêmicos. A contínua perda de cobertura florestal e espécies animais ameaça a segurança alimentar de milhões de pessoas que dependem da caça e pesca. Esta crise de biodiversidade, aliada à pobreza e desigualdade social, desafia a criação de novos caminhos de desenvolvimento que alinhem a conservação da biodiversidade com a melhoria do bem-estar local. A Amazônia, representando mais de 50% das florestas tropicais remanescentes, é crucial para a regulação do clima e a manutenção da biodiversidade global. Embora as Áreas Protegidas sejam fundamentais para a preservação, muitas unidades de conservação amazônicas carecem de estrutura e gestão adequadas, e terras indígenas enfrentam invasões e exploração ilegal. Iniciativas de manejo comunitário dos recursos naturais que acomodam múltiplos interesses locais estão surgindo como ferramentas poderosas para recuperar populações de espécies historicamente superexploradas na Amazônia. A pesca manejada do pirarucu (Arapaima gigas) é um exemplo de sucesso, no entanto, desafios como monopólio pesqueiro, pesca ilegal, logística e remuneração justa para os manejadores persistem. Esta tese, explora a pesca manejada do pirarucu no Rio Juruá, oeste da Amazônia Brasileira, através de entrevistas com gestores, presidentes de associações e pescadores, para investigar a multidimensionalidade dessa atividade na proteção territorial, organização social e contribuição da natureza para as pessoas. Observamos que o manejo comunitário do pirarucu apresenta um sistema de governança policêntrico e adaptativo para promover tomadas de decisão participativas e que apresentou um aumento de inclusão e aperfeiçoou os mecanismos de monitoramento e sanções de punição ao longo do tempo, o que pode inspirar outros modelos de bioeconomia para a Amazonia. Adicionalmente, a proteção comunitária dos lagos para a pesca manejada promove diferentes percepções locais sobre a contribuição da natureza para as pessoas principalmente na criação e manutenção de habitats, qualidade do ar, materiais e preservação de recursos genéticos. Demonstramos que o mapeamento das rotas de vigilância percorridas pelos manejadores é substancialmente superior a área de interesse direto para o manejo (área do lago). Porém, os custos associados à proteção são desproporcionais aos benefícios gerados por essa atividade que pode ser valorizada por mecanismos de pagamentos por serviços ambientais para melhor remuneração dos manejadores.