Urbanização como filtro ambiental: como as características das cidades afetam o parasitismo de ovos de Antiteuchus mixtus (Pentatomidae: Discocephalinae)?
Superfícies impermeáveis; Interações ecológicas; Controle biológico
A urbanização é um dos principais motores da perda de biodiversidade e da ruptura de interações ecológicas, embora seus efeitos sobre dinâmicas parasitoide–hospedeiro em cidades tropicais ainda sejam pouco compreendidos. Neste estudo, investigamos como características urbanas em duas escalas espaciais, regional (entre cidades) e de paisagem (dentro de uma cidade), influenciam a probabilidade e a taxa de parasitismo de massas de ovos de Antiteuchus mixtus (Hemiptera: Pentatomidae) por vespas scelionídeas. As coletas de campo foram realizadas entre maio e agosto de 2025 em oito municípios do bioma Mata Atlântica e ao longo de um gradiente de urbanização na cidade de Penedo, Brasil. As métricas de parasitismo foram analisadas com modelos lineares generalizados mistos para distribuições binomial e beta, com preditores urbanísticos padronizados e avaliados quanto à colinearidade. No total, foram examinadas 264 massas de ovos e 6.345 ovos. Em escala regional, a idade das cidades foi o único preditor significativo, influenciando positivamente tanto a probabilidade quanto a taxa de parasitismo. Cada década adicional de idade aumentou a probabilidade de parasitismo em aproximadamente 15% e a taxa de parasitismo em cerca de 4%, sugerindo que cidades mais antigas, com desenvolvimento urbano mais estabilizado, podem oferecer condições que favoreçam a persistência de parasitoides e o sucesso na localização de hospedeiros. Em escala de paisagem dentro de Penedo, a urbanização atuou como um forte filtro ambiental. A cobertura por superfícies impermeáveis afetou negativamente tanto a probabilidade quanto a taxa de parasitismo, com cada aumento de 1 ha reduzindo as chances de parasitismo entre 59% e 74%. A cobertura vegetal também influenciou negativamente a taxa de parasitismo, contrariando expectativas, possivelmente refletindo mudanças urbanas na composição vegetal e na disponibilidade de néctar essencial à aptidão dos parasitoides. De modo geral, nossos resultados demonstram que a influência da urbanização sobre interações parasitoide-hospedeiro é dependente da escala. A idade da cidade emerge como importante preditor em escalas amplas, enquanto a estrutura fina do habitat, especialmente a extensão de superfícies impermeáveis, desempenha papel dominante dentro das cidades. Esses achados destacam a importância de integrar aspectos históricos e espaciais da urbanização em estudos ecológicos e reforçam a necessidade de mais pesquisas sobre interações ecológicas urbanas em regiões neotropicais.