Biomonitoramento da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC) com o bivalve Tivela mactroides (Born, 1778), após o derramamento de óleo
Bivalves, Estresse Oxidativo, Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos, Neurotoxicidade
O derramamento de óleo cru ocorrido em 2019 na Costa do Brasil afetou diversas Áreas Marinhas Protegidas, dentre elas, a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC), em Alagoas. Um dos componentes do óleo são os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA’s), os quais podem causar diversos efeitos deletérios em organismos aquáticos, como desbalanço redox e neurotoxicidade. Estudos de Biomonitoramento com o uso de biomarcadores são uma importante ferramenta para esclarecer os diferentes contaminantes e seus efeitos sobre a biota e, ainda, subsidiar políticas de conservação ambiental. Desta forma, este estudo objetivou avaliar os potenciais efeitos ecotoxicológicos no bivalve Tivela mactroides (maçunim) de áreas atingidas pelo óleo. Foram realizadas coletas nos períodos intermediário (setembro/2020), de estiagem (dezembro/2020) e chuvoso (abril/2021) em três localidades da APACC, que representavam um gradiente decrescente do volume de óleo removido: 1) Maragogi; 2) Japaratinga e 3) Paripueira. Foi realizada a quantificação dos HPA’s presentes no corpo mole dos bivalves, a avaliação de biomarcadores de balanço redox e neurotoxicidade nas brânquias e glândula digestiva, bem como o cálculo do Índice Integrado de Biomarcadores (IBR). Dos 16 HPA’s investigados foram detectados 13 tipos, sendo o Pireno, Benzo (a) antraceno, Criseno, Benzo (b) fluoranteno, Benzo (k) fluoranteno, Benzo (a) pireno e Ideno (1,2,3-cd) responsáveis por ~43% da concentração de HPA’s totais. Foi constatada uma resposta antioxidante em todas as localidades para ambos os órgãos investigados, porém essas não foram suficientes para evitar danos oxidativos na glândula digestiva dos bivalves de Maragogi no período estiagem e de Paripueira no período chuvoso. Os maiores valores de IBR foram observados para Japaratinga e Maragogi, entretanto não houve correlação com os níveis de HPAs destes locais. Em geral, T. mactroides se mostrou sensível às variações ambientais, entretanto apresentou respostas antioxidantes que o tornam resiliente a diferentes estressores ambientais. Em conjunto, estes dados denotam a importância da inclusão de estudos ecotoxicológicos na APACC para o acompanhamento dos efeitos a longo prazo após o episódio do derramamento de óleo, bem como de outros poluentes oriundos da atividade antrópica.