Estrutura taxonômica e funcional de assembleias de peixes no contínuo rio-estuário do rio São Francisco e impacto das espécies não-nativas
Sazonalidade. Invasibilidade:Invasiveness. Modelagem. Diversidade Funcional. Diversidade taxonômica.
O continuum rio-estuário, comporta diversos ambientes altamente produtivos, relacionados à constantes flutuações das condições ambientais pela mistura de água doce e salgada, criando ambientes estratificados que filtram a ocorrência das espécies no decorrer da sua extensão. Os diversos habitats destes ecossistemas aquáticos de transição, vem sendo submetidos a intensos impactos decorrente do barramento dos rios e a introdução de espécies não-nativas. Na presente dissertação abordamos duas questões, tendo como modelo o sistema continuum rio-estuário do baixo rio São Francisco, historicamente impactado pela construção de hidroelétricas e introdução de espécies. Para a primeira questão foi estudada a resposta da estrutura taxonômica da comunidade de peixes a fatores fisiográficos e sazonais, relacionados à produtividade biológica. Para a segunda questão, foi verificado o impacto de espécies não-nativas na diversidade funcional da comunidade baseada em traços tróficos de alta resolução. O continuum foi dividido espacialmente em três regiões de acordo com a geomorfologia do baixo São Francisco: Depressão (alto), Tabuleiro (médio) e Delta (baixo). Dados bimensais sobre composição e abundância por espécies de peixes, bem como, dados quantitativos da dieta, foram coletados entre 2019 e 2021, com diversos apetrechos de pesca. Simultaneamente, foram registrados dados abióticos (salinidade, profundidade, temperatura, clorofila a, turbidez, condutividade, oxigênio dissolvido). Os resultados indicam que a sazonalidade, modelada pela variação pluviométrica, não influencia a estrutura taxonômica da comunidade de peixes no continuum rio-estuário do rio São Francisco, porém existe diferenciação espacial na composição e uso de habitat definidos principalmente pela salinidade, neste sentido, foi discutido o impacto da perda do efeito sazonal em ambientes represados. Em relação ao impacto das espécies não-nativas na comunidade nativa do baixo rio São Francisco, foram utilizados cenários de simulação de componentes da diversidade funcional, avaliando o impacto na estrutura trófica, mediante a retirada de espécies não-nativas por região fisiográfica. Tendo como base o conceito de partição de nicho trófico, foram estimados traços funcionais tróficos contínuos de alta resolução, mediante análise da dieta das espécies nativas e não- nativas. As espécies não-nativas foram retiradas nos cenários de simulação, tendo como critério o nível trófico. Foram identificadas 10 espécies não nativas com níveis tróficos variando entre detritívoras e carnívoras, sendo a ocorrência e abundância relacionada com a região ao longo do continuum. Os resultados das simulações, conforme a retirada das espécies não nativas do menor ao maior nível trófico e posterior recalculando os índices funcionais indicam impacto na estrutura funcional da comunidade nativa. A partir da primeira retirada da espécie introduzida, ocorre uma expansão no espaço funcional na região do tabuleiro, sendo possível inferir que o nicho trófico das espécies nessa região está compactado pelas espécies não-nativas. Na região depressão, ocorre homogeneização funcional. No delta do rio, há um processo de filtragem ambiental, sendo as espécies não-nativas barradas pela maior salinidade, contudo, apesar de todas as espécies não-nativas encontradas serem de água doce, houve ocorrência em baixa abundância de Bryconops melanurus, Cichla kelberi, Metynnis lippincottianus, Oreochromis niloticus, Pellona castelnaeana e Trachelyopterus galeatus.