Mudanças climáticas e sistemas alimentares: um olhar para as atividades produtivas na região da foz do rio São Francisco
Extrativismo florestal. Etnoecologia. Conservação biocultural
As mudanças climáticas têm provocado eventos extremos, como chuvas em excesso e anos muito secos. As projeções climáticas alertam para a necessidade de estratégias capazes de garantir a soberania e segurança alimentar. O estudo valeu-se da percepção das populações humanas inseridas na região da Foz do Rio São Francisco (Piaçabuçu, Alagoas) para responder à seguinte pergunta: como as atividades produtivas (agricultura, extrativismo de plantas alimentícias silvestres e pesca) são impactadas por alterações climáticas na região? Para coleta de dados foram realizadas nove oficinas de Diagnóstico Rápido Participativo (DRP), junto à oito diferentes comunidades do município de Piaçabuçu. Um total de 149 pessoas participaram das oficinas. Os dados foram analisados de forma quali-quantitativa. Foi calculado, para os principais produtos de cada comunidade, um índice de perda relativa de produtividade (IPRP) em anos excessivamente chuvosos (IPRPc) e em anos excessivamente secos (IPRPs). Em seguida, foram realizados GLMM (modelos lineares generalizados mistos) para identificar se o tipo de atividade interfere no IPRPc e IPRPs. De um modo geral, as comunidades distribuem seu esforço em diferentes atividades produtivas, havendo forte sobreposição (pessoas que praticam mais de uma atividade) e ampla diversificação de produtos. De um modo geral não houve diferenças entre as atividades no que diz respeito ao IPRP, exceto para os principais produtos da pesca, que tiveram menos perdas em anos excessivamente chuvosos do que os principais produtos da agricultura e extrativismo. Os resultados mostraram o amplo potencial do município para o enfrentamento às mudanças climáticas. No entanto, desafios relacionados à implementação de estratégias de conservação, monitoramento do uso sustentável e acesso a terra precisam ser superados.