A falta de investimentos técnicos, financeiros e estratégicos compromete a efetividade
das áreas protegidas, especialmente na África Subsaariana, onde desigualdades
históricas e vulnerabilidades institucionais agravam esses desafios. Diante disso, esta
tese investigou como a culturômica da conservação pode ser utilizada para analisar o
interesse público pelos parques nacionais da região, identificando fatores que
influenciam esse interesse e avaliando a vulnerabilidade política dessas áreas diante de
retrocessos legais (eventos PADDD). No primeiro capítulo, a pesquisa examinou a
fragilidade dos parques africanos utilizando uma métrica digital baseada em
visualizações na Wikipédia, combinada a dados geográficos, históricos e
socioeconômicos por meio de modelos lineares generalizados mistos (GLMM). Os
resultados indicaram que os parques mais vulneráveis estão em países com maior PIB
per capita, histórico de conflitos, interferência externa e baixo fluxo de turismo. Além
disso, menos de 30% deles possuem planos de manejo operacionais reportados.
Embora algumas reduções territoriais tenham sido justificadas por correções de
injustiças históricas, grande parte das flexibilizações está associada à exploração de
recursos naturais, evidenciando a necessidade de revisão das políticas ambientais e de
maior transparência na gestão dessas áreas. O segundo capítulo explorou a relação
entre interesse cultural e prioridade de conservação, considerando a proporção de
espécies ameaçadas presentes nos parques. A análise fatorial exploratória (EFA) e
modelos lineares generalizados (GLM) mostraram que o interesse cultural é influenciado
por fatores como tamanho, idade, renda nacional e presença de espécies icônicas,
enquanto a prioridade de conservação está relacionada a fatores estruturais mais
amplos, como desigualdade social e regime político. Apesar de haver pouca
sobreposição entre as duas dimensões, sua combinação revelou cenários estratégicos
para orientar ações específicas de conservação e mobilização pública. Os resultados
reforçam a importância de estratégias integradas que conciliem conservação, justiça
social e participação pública. Mesmo com limitações nas ferramentas culturômicas,
destacam-se as possibilidades oferecidas por iniciativas digitais para reduzir assimetrias
de visibilidade e fortalecer o apoio à conservação em diferentes territórios e contextos
ecológicos.