COMO OS ESTUDOS SOBRE MODELAGEM DE NICHO DE PLANTAS ALIMENTÍCIAS SILVESTRES (PAS) ABORDAM AS VARIÁVEIS HUMANAS NOS MODELOS?
modelos biogeográficos; plantas alimentícias; vida silvestre; percepção humana; conservação biocultural
Com o encerramento da Agenda 2030 se aproximando e diante das mudanças climáticas em curso, torna-se urgente pensar estratégias de conservação biocultural. Neste contexto, a resiliência edafoclimática das plantas alimentícias silvestres (PAS) representa uma vantagem adaptativa em sistemas socioecológicos, sendo também recurso relevante para famílias extrativistas em termos de renda e de segurança alimentar e nutricional. Contudo, essas espécies também têm sido alvo do sinergismo entre as ameaças climáticas e as pressões antrópicas, cujos impactos podem ser observados através de ferramentas como a modelagem de nicho ecológico (MNE). Assim, para compreender e prever os padrões de distribuição geográfica destas espécies, é essencial incorporar variáveis humanas aos modelos, dada a influência (e dependência) marcante das atividades antrópicas sobre sua ocorrência. Com base nisso, esta revisão sistemática buscou investigar como tais variáveis têm sido incluídas em MNE de PAS. Utilizando o protocolo PRISMA e a abordagem PSALSAR, foram analisados 10 artigos, observando o uso de variáveis humanas, sua aplicação nos modelos, técnicas de seleção, poder preditivo e uso da percepção local. A maioria dos estudos utiliza dados de uso e cobertura da terra, sem testar projeções futuras ou incluir variáveis humanas em testes de colinearidade. Embora reconheçam o papel da percepção humana, nenhum estudo a incorporou como variável de entrada. A escolha por variáveis como distância de estradas ou áreas agrícolas favorece análises em larga escala, mas negligencia aspectos locais cruciais para a acurácia dos modelos e para decisões em territórios específicos. Diante disso, sugere-se que futuros trabalhos de MNE com repercussão local possam considerar incluir variáveis humanas para além do uso e cobertura do solo, como através da incorporação do conhecimento ecológico de comunidades locais, sendo o próximo capítulo da dissertação uma aposta experimental neste sentido.