Respostas das assembleias de peixes recifais ao zoneamento em uma Área Marinha Protegida no Atlântico Sul Ocidental
Unidade de conservação, Ictiofauna, Geomorfologia, Valoração, Zonas no-take.
Os recifes de coral se destacam por sua diversidade, riqueza e importância ecológica e econômica. Apesar da importância, esses recifes sofrem constantemente com os impactos humanos, como turismo descontrolado e pesca, tornando esses ambientes menos resilientes. A criação de Áreas Marinhas Protegidas (AMP) e seu zoneamento, além de regular esses impactos, é essencial para a proteção e manejo dos recifes. Nosso estudo teve como objetivo testar as seguintes hipóteses: (I) As assembléias de peixes recifais na Zona de Preservação da Vida Marinha (ZPVM), apresentam maior densidade que as zonas de visitação (ZV) e de uso sustentável (ZUS). (II) A geomorfologia do recife, na mesma zona de uso, influencia a densidade e biomassa dos peixes. (III) A ZPVM tem maior valor (US $) de peixes recifais visados pela pesca quando comparada a outras zonas de uso da APA Costa dos Corais (APACC), a maior MPA costeira do Brasil. Foram realizados 180 censos visuais subaquáticos (CVSs) em dois momentos de amostragem, curto e médio prazo após o retorno das atividades turísticas suspensas devido à pandemia covid-19. Os UVCs foram realizadas em três zonas: ZV, ZUS e ZPVM e em duas áreas geomorfológicas em cada zona: back reef e reef flat. Um total de 5.946 indivíduos de 51 espécies foram registradas. O ZV apresentou a maior riqueza, densidade e biomassa entre as zonas. A PERMANOVA indicou diferenças significativas na abundância e biomassa de peixes entre as áreas geomorfológicas na ZUS (p = 0,001) e ZV (p = 0,001) no curto prazo após a reabertura das atividades turisticas na APACC. Além disso, os valores de biomassa e densidade foram significativamente maiores na ZV e ZUS a curto prazo. Os herbívoros territorialistas e herbívoros errantes apresentaram maiores densidades e biomassa na ZPVM, enquanto os predadores de invertebrados móveis na ZV e ZUS. O número de turistas foi maior no período de médio prazo após a reabertura das atividades. Esse aumento de turistas modifica o ambiente com o pisoteio, expondo presas e, assim, favorecendo grupos tróficos oportunistas. O ZPVM apresentou maior valor economico dos peixes que são alvo da pesca, chegando a US $ 2.117,7/ha no médio prazo após a reabertura. Nossos dados reforçam a importância do zoneamento para a conservação e economia local e que: as assembléias de peixes recifais da ZPVM, apresentam maior densidade apenas no curto prazo após a reabertura das atividades turísticas, com destaque a ZV. (II) A geomorfologia dos recifes, na mesma zona, influencia a densidade e biomassa da assembleia de peixes. (III). Há uma diferença na avaliação econômica entre as zonas de uso e período. Esse valor financeiro das distintas zonas na APACC pode pode ser utilizado para um maior engajamento da comunidade local a conservação, que tem o turismo e a pesca seus principais pilares da economia.