A justificação do injustificável: estratégias discursivas da Braskem na construção do crime-desastre em Maceió (AL)
Crime-Desastre; Estratégias comunicacionais; Justificação; Mineração.
Este estudo tem como objetivo analisar, à luz da Análise de Discurso de tradição francesa (ADF), as estratégias discursivas “oficiais” mobilizadas pela mineradora Braskem, entre os anos de 2018 e 2024, no contexto do crime-desastre socioambiental causado pela exploração de sal-gema em Maceió (AL). A partir da noção de campo, de Pierre Bourdieu (2021), entendida como espaço de lutas simbólicas e materiais, busca-se compreender como a empresa reconfigura sua atuação por meio da produção de uma narrativa institucional aparentemente técnica, que disputa os sentidos sobre o desastre. O corpus é composto por materiais institucionais públicos, como os vídeos das campanhas Braskem Explica e Compromissos Braskem, além dos Relatórios Anuais Integrados (RAIs), que revelam os modos pelos quais a empresa constrói sua imagem de responsabilidade socioambiental. A análise considera os efeitos de sentido produzidos nesses discursos, com base nas formações discursivas e na dinâmica interdiscursiva que atravessa o campo ambiental, estruturando-se em três eixos: o enquadramento técnico do desastre, a responsabilização estratégica e a construção de um perfil institucional empático. A pesquisa busca problematizar o papel desses discursos na produção de uma hegemonia discursiva voltada à despolitização do desastre e à sua naturalização (Foucault, 2014; Orlandi, 2001; Pêcheux, 2014) contribuindo para o entendimento dos sentidos que as grandes corporações mobilizam na gestão simbólica de desastres socioambientais.