"Quando ensaiamos lutar": mulheres, imprensa e feminismos em Maceió-AL (1887-1903)
Imprensa Feminista; Mulheres letradas; Maceió; República.
Este trabalho apresenta uma análise dos periódicos femininos e feministas da cidade de Maceió-AL, cuja aparição na capital remonta ao final da década de 1860. Entre as fontes, em formato de jornal impresso, foi dispensada maior atenção aos três periódicos que evidenciam a ação política de mulheres letradas na imprensa periódica: Revista Alagoana, 1887; O Feminista, 1902; O Rosal, 1903. Essas publicações foram responsáveis pela promoção da “consciência feminista” na cidade (Gerda Lerner, 2022). Em Alagoas, o apagamento sistemático das memórias relacionadas à atuação das mulheres é uma realidade compartilhada com outros estados do país, porém, quanto à recuperação de suas histórias, por aqui ainda se fez pouco (Izabel Brandão; Ivia Alves, 2002). Enfrentando a invisibilidade política que lhes foi legada e as poucas referências bibliográficas sobre o assunto, esta pesquisa historiciza o periodismo feminino e feminista a partir da utilização da crítica feminista e das categorias analítico-interpretativas de sexo, classe, raça e gênero (Lélia Gonzalez, 2022; Kimberlé Crenshaw, 2020; Cecília Sardenberg, 2007; Donna Haraway, 1995; Angela Davis, 2016), assim como busca capturar os “silêncios” que constituem e revelam a materialidade do poder sobre o corpo das/os sujeitas/os em Alagoas (Eni Orlandi, 2007; Michel Foucault, 1984). Com isso em vista, interessou mapear as principais reivindicações feitas por essas mulheres e a avaliação que faziam de sua própria condição social permeada por discursos que sinalizam a Modernidade capitalista, a feminização da cultura e a transformação do espaço rural em meio urbano (Yuderkys Minõso, 2020; Durval Albuquerque Jr., 2013; Arrisete Costa, 2015). Desde as últimas décadas do século passado, há no Brasil uma crescente publicação de pesquisas que têm como foco a história das mulheres, dado que revela a tentativa de resgatar suas memórias, mas também o uso político do passado para contestar as desigualdades de gênero e seus entrecruzamentos precarizante das identidades femininas no tempo presente (Margareth Rago, 1995; Rachel Soihet; Joana Maria Pedro, 2007).