O ESTUDO DAS FUNÇÕES AUDITIVAS CENTRAIS POR MEIO DO MISMATCH NEGATIVITY EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO FONOLÓGICO
Mismatch Negativity. Potenciais evocados auditivos. Audição. Percepção da Fala. Transtorno Fonológico. Linguagem.
A discriminação auditiva representa um aspecto fundamental para a produção correta dos sons da fala, pois é mediante a percepção das características acústicas que os fonemas podem ser distinguidos uns dos outros, gerando representações neurais apropriadas. As crianças com transtorno fonológico apresentam desorganização do sistema de sons, com a presença de substituição e/ou omissão de fonemas, numa faixa etária não mais esperada. A etiologia desse transtorno ainda não está clara, entretanto, a inabilidade em discriminar auditivamente as caracteríscicas dos fonemas pode ser um fator causal ou agravante desse quadro. Diante da relação existente entre habilidades auditivas e o transtorno fonológico, a investigação do processamento auditivo nessas crianças torna-se extremamente valiosa. Assim, a avaliação objetiva do processamento auditivo, por meio de exames eletrofisiológicos da audição, como o Mismatch Negativity, assume papel relevante nos estudos dessa população. Na busca de um maior entendimento a respeito dessa temática, foi realizada uma revisão sistemática com metanalise, com o intuito de conhecer as pesquisas que utilizaram o Mismatch Negativity para avaliar a discriminação auditiva em crianças com o transtorno, e ter um panorama dos protocolos utilizados nesses estudos. Foram encontradas poucas pesquisas na literatura que utilizaram esse potencial na população estudada e não foram encontrados estudos que relacionassem o estímulo verbal utilizado para a discriminação auditiva com os processos fonológicos que crianças com transtorno fonológico apresentam em sua fala. Sabendo-se que a investigação da relação entre as competências de produção e percepção de fala é primordial para essas crianças, uma vez que novas descobertas podem reorganizar o modelo de intervenção frente a essa população, propôs-se desenvolver novo teste de discriminação verbal com uso do Mismatch Negativity para crianças com transtorno fonológico, com uso de estímulos verbais que correspondem aos processos fonológicos. A pesquisa teve o objetivo de comparar a habilidade de discriminação auditiva de crianças com transtorno fonológico e com desenvolvimento típico, da faixa etária entre quatro e sete anos, de ambos os sexos, por meio do Mismatch Negativity, realizado os estímulos de fala
natural /ta/, /ga/ e /da/, desenvolvidos para o presente estudo. Os estímulos foram escolhidos para serem combinados aos pares de modo a corresponderem à processos fonológicos, sendo o estímulo /ta/x/da/ associado ao processo de ensurdecimento ou sonorização de plosivas e o estímulo /ga/x/da/ relacionado à frontalização ou posteriorização para velar, nos quais a sílaba /da/ apresentou-se sempre como o estímulo raro, com 20% de aparecimento. Os resultados foram analisados estatisticamente. A amostra estudada apresentou alta prevalência de transtorno fonológico em meninos, na faixa etária de 5 anos, com gravidade levemente-moderada e com maior ocorrência dos processos de simplificação de encontro consonantal, simplificação de líquida e simplificação de consoante final. Na comparação intragrupo, foi possível verificar que as crianças com transtorno fonológico discriminam de maneira semelhante os pares de estímulos utilizados. Não foi observada correlação entre o MMN e a inteligibilidade de fala. Além disso, ainda com o foco na discriminação auditiva de crianças com transtorno fonológico, propôs- se o desenvolvimento de um dispositivo que pudesse contribuir na terapia dessas crianças, proporcionando uma melhor percepção e discriminação dos fonemas, necessária para a produção adequada da fala, possibilitando assim, um feedback auditivo mais eficiente, e que também oferecesse à pratica docente a possibilidade do aprendizado compartilhado mais refinado das características acústicas da fala.