HISTORIOGRAFIA DAS PRÁTICAS DA AUTOMUTILAÇÃO: PRODUÇÃO DE SENTIDOS EM NARRATIVAS DE JOVENS NO ENSINO SUPERIOR
Práticas de Automutilação; Historiografia; Narrativas Autobiográficas; Produção de Sentidos.
Na atualidade tem-se presenciado um aumento da incidência da automutilação nas escolas e na sociedade em geral, configurando-se um problema de saúde pública. Analisamos a literatura e observamos que a maior parte das pesquisas sobre este fenômeno possui um viés predominantemente biomédico, com foco na dimensão intrapsicológica e que não há um consenso entre os estudiosos sobre como nomeá-lo. Avaliamos esse cenário e observamos que ele permeia uma tendência para estigmas, preconceitos, exclusão e medicalização das pessoas envolvidas com essas práticas. Destacamos a importância de uma discussão que também aborde os aspectos interpsicológicos. Apontamos para inexistência de estudos sistemáticos que discutam a historicidade dessas práticas. Essa abertura para a proposição e diversificação de abordagens para a prevenção e enfrentamento deste fenômeno levou-nos a a realização dessa pesquisa, que teve como objetivo investigar implicações historiográficas na negociação de sentidos sobre automutilação nas narrativas de graduandos em Psicologia. A presente dissertação constitui-se de dois capítulos formatados como artigos científicos. No primeiro artigo apresentamos uma revisão da literatura que aborda uma breve historiografia das práticas de automutilação. Neste argumentamos que a automutilação não é uma prática atual, visto que se revela com diversidade ao longo da história da humanidade, relacionada com aspectos socioculturais subjacentes às experiências humanas no mundo. No segundo artigo apresentamos uma pesquisa-intervenção com o objetivo de investigar implicações historiográficas na negociação de sentidos sobre automutilação nas narrativas de graduandos em Psicologia. Na metodologia, realizamos um ciclo de sete oficinas, que consistiram em atividades para fomentar a escrita de narrativas pelos participantes. Todas as oficinas foram realizadas de forma remota, através da plataforma Google Meet, cumprindo-se determinações para o isolamento social em decorrência da pandemia da COVID-19. Os resultados do ciclo de oficinas, indicaram que os participantes mudaram a forma como concebiam as práticas de automutilação, refletindo o movimento da historicidade e suas implicações para convivência com pessoas que a praticam. Concluímos, a partir do nosso desenho metodológico, que o foco na historicidade da automutilação, possibilitou-nos refletir sobre as suas implicações para a convivência com pessoas que praticam automutilação e também agregar sugestões metodológicas para uma abordagem crítica, eminentemente comprometida com os aspectos culturais, ético-políticos do desenvolvimento humano.