CARTAS TRANSFEMINISTAS: Friccionando fronteiras
a) transmasculinidades; b) transfeminismo; c) feminismo; d) gênero.
Esta dissertação propõe uma cartografia, realizada dentro do cenário brasileiro, das produções transfeministas das transmasculinidades, compreendendo o ato de pesquisar como um gesto implicado, afetivo e criador de realidades. A escrita se constrói como uma montagem poética e teórica — nomeada aqui como cartografia friccional — que assume a fricção como proposta estética e política. Essa fricção atravessa não apenas os conteúdos da pesquisa, mas também suas formas: entrelaça processos epistemológicos, teóricos, artísticos e metodológicos, fazendo do próprio percurso investigativo um campo de experimentação. Articulando arte e metodologia cartográfica, os verbos: Pesquisar, Sentir, Pensar, Criar e Viver, são acionados. A forma de escrita, fragmentada e íntima, borra os limites entre o público e o privado — sustentada por um movimento constante de endereçamento, em que a palavra se lança como corpo, gesto e presença. A dissertação se insere nos debates transfeministas principalmente a partir das vozes e produções de pessoas transmasculinas. Nós, nos movemos em posições que não se encaixam facilmente — há algo de deslocamento constante, de estar entre. Esse entre-lugar, que não se define com rigidez, percorre toda a pesquisa como espaço de tensão, invenção e crítica. Ao reivindicarmos e ressignificarmos masculinidades, somos por vezes vistos como aspirantes aos privilégios do machismo; ao mesmo tempo, enfrentamos a negação de nossas masculinidades e a opressão dirigida a corpos lidos como femininos. Essas experiências tensionam a construção da identidade de gênero, a experiência corporal, o desejo e a vida social. O transfeminismo, como aqui entendido, se aproxima de um feminismo mestizo, ou melhor, de um feminismo movido por uma nova consciência mestiza. O prefixo trans sinaliza o movimento gerado pelo contato e atrito entre as fronteiras, trazendo à tona as potências de um feminismo que se constrói a partir de multiplicidades. Nesse entre-lugar, as transmasculinidades não ocupam um espaço de transição ou ausência, mas de criação e potência. Ali se desenham outras formas de masculinidades que friccionam as fronteiras e ampliam os contornos dos feminismos e transfeminismos. Trata-se de uma aposta em existências que desafiam as lógicas da dominação, criando saberes e modos de vida que transformam o que pode um corpo, um gênero, uma política.