Sexismo no ambiente de trabalho: um estudo à luz da Teoria da Ação Planejada
Sexismo. Trabalho. Polícia. Revisão Sistemática. Teoria da Ação Planejada.
A construção histórica da noção de indivíduo e sociedade é marcada por diferentes atribuições de valor a homens e mulheres, hierarquizando as diferenças entre os sexos de forma a posicionar o ser masculino como superior ao feminino, sendo a crença da inferioridade feminina reafirmada pela imagem estereotipada da mulher. Nesse sentido, observamos que o sexismo, enquanto preconceito e discriminação contra as mulheres, também pode ser observado no ambiente de trabalho, de forma interpessoal e institucional, especialmente nos ambientes considerados tipicamente masculinos, como instituições policiais. Nesse contexto de estereótipos, preconceito e discriminação contra mulheres, entendemos importante estudar o sexismo no ambiente de trabalho. Posto isso, realizamos, inicialmente, uma Revisão Sistemática de Literatura que objetivou identificar e analisar estudos que tratam de “expressões do sexismo no ambiente de trabalho”. Para tanto, realizamos uma busca bibliográfica nas bases de dados SciELO, PePSIC, LILACS, Index Psi, PsycINFO, PsycARTICLES e Web of Science e selecionamos 129 artigos, que foram submetidos a análise manual e pelo software IRAMUTEQ. Os resultados apontaram maior publicação nos últimos anos, predominância de artigos empíricos quantitativos e internacionais e que o tema é de interesse multidisciplinar, com destaque para a Psicologia. Os estudos apresentam estrutura metodológica bem definida e enfatizam o caráter ambivalente do sexismo, sua manifestação institucional e a figura da mulher como vítima desse fenômeno. A temática é de interesse crescente, mas merece mais atenção no contexto local. Posteriormente, realizamos um estudo empírico a partir da Teoria da Ação Planejada que objetivou verificar experiências sexistas com ênfase em evidenciar as crenças salientes de natureza comportamental, normativa e de controle relativas à intenção comportamental feminina de
combater o sexismo no ambiente de trabalho policial. Para tanto, realizamos entrevistas individuais semiestruturadas com uma amostra de 29 mulheres policiais civis do Estado de Alagoas, cujos discursos foram transcritos e analisados manualmente e pelo software IRAMUTEQ. Os resultados confirmaram que o sexismo é forte no ambiente policial, manifestado de maneira hostil ou benevolente nas relações interpessoais e institucionais, com destaque ao sexismo hostil pelos colegas de trabalho. As crenças de controle tiveram maior destaque, seguidas das crenças comportamentais, demonstrando que as policiais percebem mais fatores facilitadores e restritivos/impeditivos do comportamento em questão em comparação às vantagens/desvantagens e aos referentes sociais, o que pode indicar maior impacto dessas de controle sobre a intenção comportamental. O sexismo está relacionado à condição da policial enquanto mulher, profissional e mãe e se reflete em proteção, divisão sexual do trabalho, punições, piadas, comentários desqualificadores, inferiorização, isolamento, exclusão e questionamentos quanto à capacidade feminina na profissão. Outros fatores levantados nas crenças podem ser relacionados a clima organizacional e assédio (moral e sexual). Essa dissertação atingiu os objetivos propostos e acreditamos que seus resultados podem expandir o entendimento e o debate sobre o tema, incentivando novos estudos e embasando políticas públicas para o combate ao sexismo no ambiente de trabalho.