PARA ALÉM DAS RACHADURAS: as ações da comunidade no enfrentamento da situação de risco
socioambiental no bairro do Pinheiro em Maceió-AL
Participação da comunidade; Gestão de risco socioambiental; Movimento construcionista; Teoria
Ator-Rede.
O drama vivenciado pelas/os moradoras/res do Pinheiro, bairro situado em Maceió, em Alagoas,
no Nordeste do Brasil, foi disparador dessa pesquisa de mestrado. O bairro foi oficialmente
identificado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e outros órgãos governamentais, como área
de risco, devido ao surgimento de rachaduras e fissuras que evoluíram em função de um abalo
sísmico registrado em 2018. Considerando este cenário, procuramos nessa pesquisa compreender
a participação da comunidade no enfrentamento e na gestão de risco socioambiental.
Especificamente, buscamos identificar os limites e as possibilidades da participação das/os
moradoras/res nas ações e nos processos decisórios. Além de conhecer as articulações - ou a
ausência delas - as vivências e as controvérsias que configuram o campo em estudo. Propomos
ainda situar no campo científico como essa discussão tem sido abordada. A nossa pesquisa se
insere em uma metodologia qualitativa em Psicologia Social, pautada pela visão hermenêutica da
produção do conhecimento. Os referenciais teórico-metodológicos norteadores deste estudo,
balizam-se nos pressupostos do movimento construcionista que propõe a coconstrução do
conhecimento, bem como na Teoria Ator-Rede (TAR) que possibilita compreender a gestão de
áreas de risco a partir de sua multiplicidade e complexidade, performada por atores humanos e
não humanos. Utilizamos dois métodos para compor o corpus deste estudo: a pesquisa
documental com base nos documentos de domínio público – matérias jornalísticas- e a escrita de
diários de campo. No processo de análise dos documentos veiculados pela mídia identificamos
incidentes críticos; eventos que dão visibilidade aos conflitos e as negociações entre os atores
envolvidos em uma dada controvérsia. Os quatro incidentes críticos identificados nesse processo
foram: 1) o surgimento das rachaduras; 2) as rachaduras tornam-se coletivas e públicas; 3) o abalo
sísmico; e 4) o relatório conclusivo do Serviço Geológico do Brasil, que aponta a causa da
instabilidade do solo. Com base nos incidentes críticos foi possível visualizar as mudanças nas
estratégias implementadas pela comunidade. E a partir disso, foi possível constatar que estas,
transitaram de ações passivas, individuais e paliativas, para ações mais ativas e coletivas, mediadas
pela atuação de associações comunitárias.