Bordadeiras de sabedorias: mulheres idosas e suas pedagogias clandestinas
Mulheres idosas; Espaços educativos não convencionais; Pedagogias clandestinas; Feminismos subalternos e decoloniais; Psicologia social.
O fio condutor dessa pesquisa traceja pela educação de mulheres idosas em territórios não convencionais. A educação escolar nem sempre se constituiu como de direito para as mulheres e, quando foi possível, outras delimitações permaneceram inviabilizando o acesso e a permanência a esse contexto. No entanto, isso não significa ausência de processos educativos e formativos, visto que são sujeitas de outros espaços, outras pedagogias e outros saberes que germinaram nos itinerários de suas existências e em seus modos de vida. Trata-se de difundir e fortalecer a existência de um vínculo estreito entre educação e o chão pisado, permeado por sabedorias e conhecimentos outros. As interlocutoras da pesquisa são quatro mulheres idosas inseridas em um coletivo de bordado de Alagoas, o Bordazul. A pesquisa teve como objetivo geral compreender práticas de subjetivação de mulheres idosas em diferentes espaços educativos não convencionais. Como objetivos específicos, o estudo buscou localizar espaços educativos não convencionais em que as mulheres idosas se encontram imersas; evidenciar as memórias de mulheres idosas acerca dos seus itinerários educacionais, bem como as implicações de gênero nesses processos; discutir os significados atribuídos pelas mulheres idosas aos seus processos educativos. Com base no referencial teórico dos feminismos subalternos e outros conhecimentos não-hegemônicos, as memórias e emoções foram utilizadas como recursos epistêmicos e metodológicos, possibilitando uma escrita memorialística. Com isso, foi possível tecer cartas que sinalizam o lugar epistêmico de onde surge a pesquisa. O “pesquisarCom”, proposto por Márcia Moraes, e a consideração de uma pesquisa engajada, inspirada em bell hooks, auxiliaram a construção dos passos metodológicos, visto que estabelecem o comprometimento e a articulação de uma postura ombro a ombro entre as sujeitas pertencentes ao processo. Os encontros aconteceram através de ligações e um contato inicial presencial. A estratégia utilizada nos encontros foi a realização de conversações, demarcando a importância de nutrir um diálogo para a construção de um envolvimento subjetivo. A forma de registro se deu através da gravação dos encontros. A partir das ressonâncias das conversações foram construídas contações a fim de contextualizar as interlocutoras e seus processos formativos/educativos. Por fim, constatou-se que as mulheres nasceram na zona rural e tiveram em suas vidas intersecções de poder que se reverberaram na impossibilidade de inserção ao ensino formal. O trabalho durante a infância e vida adulta, a distância da escola, casamento, o cuidado com os filhos e outros fatores se apresentam como dificuldades em comum nas narrativas dessas sujeitas. A educação para essas mulheres é concebida e indissociada do cotidiano, em que suas aprendizagens e pedagogias transcorrem a partir do observar e fazer junto. A oralidade e as mãos se apresentam como vias para a construção e transmissão de sabedorias e conhecimentos. Na atualidade, o bordado surge como uma ferramenta política e de agenciamento, em que constroem um espaço e uma comunidade de aprendizagem.