OS SIGNIFICADOS DA ADOLESCÊNCIA EM SITUAÇÃO DE PANDEMIA DO CORONAVÍRUS PARA OS ADOLESCENTES
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A palavra adolescência provem do latim – “adolescere”, que significa crescer. Este é um período particular e singular na vida de um indivíduo, situando-se entre a infância e a vida adulta. Tendo por base a teoria psicanalítica de Winnicott, a adolescência é caracterizada por mudanças físicas provenientes da puberdade e por transformações psíquicas e emocionais, que implicam crescimento, maturidade, conquanto, isso demanda tempo. Diante do cenário pandêmico da Covid-19, que demarcou uma crise social e de saúde pública, o Brasil adotou medidas de enfrentamento: quarentena, distanciamento físico, fechamento de escolas, entre outras. O cumprimento do distanciamento físico pode implicar na saúde mental de adolescentes. Essa preocupação quanto à saúde mental da população adolescente mostra-se marcante: readaptação em decorrência do confinamento e a necessidade de uma nova adaptação à realidade naturalmente presente no período da adolescência. Deste modo, o objetivo geral desta pesquisa é compreender os significados sobre adolescência em situação de pandemia do coronavírus (Covid-19) para os adolescentes. A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisas (CEP) da Universidade Federal de Alagoas. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva, exploratória e interventiva. Toda pesquisa foi realizada de forma online, em decorrência da situação pandêmica. Para a constituição da amostra foi utilizada a técnica da “bola de neve” (snowball sampling). A pesquisa foi realizada por meio de um encontro individual e virtual com os participantes. Os instrumentos utilizados foram: questionário sociodemográfico e Procedimento Desenho-Estória com Tema (PDE-T), com a insígnia “desenhe um adolescente em situação de pandemia do coronavírus”. Participaram da pesquisa 74 adolescentes com idade entre 12 e 17 anos e 11 meses, de ambos sexos e residentes do Brasil, sendo 32 do Nordeste, 17 do Sudeste, 13 do Sul, sete do Centro-Oeste e cinco da região Norte. Para análise, foram considerados os Desenhos-Estórias com Tema, e seguiu as recomendações de Vaisberg. A interpretação dos resultados baseou-se na psicanalítica de Winnicott, bem como em pesquisas sobre a temática. O estudo foi bem aceito pelos adolescentes e possibilitou um espaço acolhedor de pesquisa-intervenção. A análise temática identificou 12 categorias. O distanciamento físico (64) foi o tema principal da pesquisa, representado de forma negativa em face dos afastamentos (amigos, escola, lazer), e este tema atravessou todos os demais. Sentimentos expressos foi o segundo tema (63), sendo (34) padecedores (solidão, tristeza e tédio) e (29) potencializadores (superação, satisfação; cuidado; carinho). Assim, alguns jovens padeceram, sofreram, e alguns jovens reconhecem o conflito pandêmico e o superaram por meio de recursos criativos singulares. Os aparatos tecnológicos (42) foram utilizados para o entretenimento e associados ao tema alimentação (11) (fast food), e menos (3) utilizados para manutenção das relações entre os pares, o que demonstra os limites das interações virtuais, e a importância e ganhos das interações presenciais. O tema estudos (31) apontou que a maioria dos jovens continuou os estudos na pandemia, mesmo com cansaço e sobrecarga. Este aspecto circunscreve os estudos com os projetos de vida, o que mostra-se relevante na adolescência, sobretudo diante de uma crise sanitária. A mudança de rotina (28) apresentou de forma marcante os afastamentos físicos (escola; amigos; interações e brincadeiras; lazer; igreja; saídas de casa). As relações endógenas (27), essa, em sua maioria, apresentou relações pautadas no afeto/cuidado (17). As relações exógenas (20) representaram um saudosismo pelo afastamento das relações com os pares, sendo caracterizado como algo negativo. A prevenção (14) abordou uso de máscara facial, álcool em gel e higiene pessoal. A atividade laboral (9) apontou na maioria dos DETs a atividade doméstica (5) realizada pelos jovens. A fé/religiosidade (8) foi importante para alguns adolescentes, principalmente para lidar com conflitos decorrentes da pandemia. Os hobbys (5) foram atividades realizada, sendo a leitura a atividade mais expressiva. Este estudo apresentou-se limitante por participar apenas jovens com aparatos tecnológicos e acesso à internet, assim como não foi possível uma representatividade significativa de todos estados e regiões do Brasil, que implicou na não análise quantitativa e comparativa entre estes. Espera-se que este estudo contribua para futuras pesquisas e intervenções, pois observou-se a potência de tais atividades com os adolescentes por promover um espaço de fala e expressão de vivências singulares mesmo que remotamente.