PERMANÊNCIA DE PESSOAS TRAVESTIS E TRANSEXUAIS NO ENSINO SUPERIOR: TRAJETÓRIAS, NARRATIVAS E IMPLICAÇÕES POLÍTICAS
a) travestis e transexuais; b) ensino superior; c) políticas de permanência; d) enfrentamentos e resistências.
Esta pesquisa teve como objetivo analisar as trajetórias e narrativas de pessoas travestis e transexuais no ensino superior sobre os desafios da permanência. Além disso, objetivou analisar as dificuldades de permanência encontradas por pessoas travestis e transexuais na universidade, bem como, entender quais as ferramentas de enfrentamento por elas utilizadas frente às adversidades em se garantir a permanência. Para tanto, conversamos com quatro estudantes travestis e transexuais matriculadas/os no ensino superior. As conversas foram realizadas pelo Google Meet, gravadas e posteriormente transcritas. A realização das conversas, estratégia metodológica escolhida para esta pesquisa, tem inspiração no trabalho de bell hooks que a compreende como um ato democrático que possibilita uma parceria e um envolvimento mútuo no processo de produção de conhecimento; além disso, ela pode fomentar a produção de um pensamento crítico. A estratégia metodológica e as escolhas epistemológicas realizadas, possibilitaram uma análise das trajetórias e narrativas das pessoas travestis e transexuais que contribuíram com a construção deste trabalho. Os resultados obtidos por meio desse material, e estudado à luz da análise de narrativas, nos permitiram a construção de seis eixos de análise que ajudam a compreender os desafios e conquistas que dizem respeito ao tema da permanência na universidade: a) a utilização do nome social como signo de reconhecimento; b) a importância da criação de vínculos; c) a potência do encontro de pessoas travestis e transexuais na universidade; d) a necessidade de construir políticas de assistência com foco na permanência de estudantes travestis e transexuais na universidade; e) o enfrentamento frente às dificuldades de permanência; f) a formação de coletivos como possibilidade de intervenção e resistência. Os resultados indicam que as condições de permanência se relacionam tanto com fatores socioeconômicos, quanto às dinâmicas institucionais fortemente orientadas por uma lógica cisnormativa; também apontam que as políticas de ação afirmativa, de reconhecimento e de assistência estudantil são primordiais para que se evitem a evasão dessa população no ensino superior e para que se garantam os direitos ao respeito e à educação. Além disso, a realização de mobilizações e campanhas sobre as lutas de pessoas travestis e transexuais na universidade são instrumentos significativos para a construção de um espaço que dê condições de acolhimento, pertencimento e permanência. O fortalecimento de vínculo nos ambientes universitários também se mostrou uma ferramenta potente para o sentimento de pertencimento das pessoas travestis e transexuais, bem como o contato e encontro com outras pessoas do mesmo grupo nesse espaço. Esperamos, por meio dessa pesquisa, ter contribuído para a construção de uma análise e de uma crítica que auxiliem a mobilização e construção de políticas voltadas para as pessoas travestis e transexuais no contexto da universidade. Ademais, buscamos colaborar para o fortalecimento de um debate que reforce o combate à transfobia nos espaços educacionais.