“Eu sou uma mulher miscigenada e sou uma mulher sincretizada”: uma análise das relações entre atores e símbolos “sincréticos” na Umbanda Nagô do Grupo União Espírita Santa Bárbara
Grupo União Espírita Santa Bárbara (GUESB – Maceió/Al); Umbanda Nagô; Sincretismo Religioso; Teorias do Contrassincretismo; Teorias Nativas; Pretos Velhos
Esta dissertação tem como ponto de partida uma pesquisa de campo realizada no Grupo União Espírita Santa Bárbara (GUESB), um terreiro de Umbanda traçada com Nagô localizado em Maceió, AL, e a descrição etnográfica de dois eventos centrais para a comunidade do GUESB: a Feijoada da Vovó Maria Conga e a Missa de Santa Bárbara, realizada junto com o Toque de Iansã. Estes dois eventos são importantes porque evidenciam como se dão as relações entre elementos, símbolos e práticas africanas, indígenas e católicas neste terreiro específico. Para compreender a história da Umbanda Nagô em Alagoas e no GUESB, trago uma discussão acerca do contexto sociopolítico pós Quebra de Xangô de 1912 e os acontecimentos internos ao terreiro que reelaboram as formas de culto. Busco dessa forma apresentar uma contraposição a uma visão hegemônica da umbanda no território brasileiro como uma “religião misturada”, sem levar em conta os fluxos, os contextos sociopolíticos e as trajetórias de vida de atores sociais concretos. As associações sincréticas entre as religiões africanas, indígenas e o catolicismo são amplamente discutidas na antropologia brasileira. No entanto, a proposta deste trabalho foi trazer as narrativas dos meus colaboradores de pesquisa acerca de suas práticas religiosas, ressaltando a proposta de construir teorias nativas. Através de um enfoque etnográfico simétrico e polifônico, busquei mostrar como os participantes do GUESB vivenciam a religiosidade de matriz africana juntamente com algumas referências simbólicas do catolicismo brasileiro, e de que maneira constroem suas relações de afeto, produzindo as suas próprias teorias sobre o “sincretismo”. Neste sentido, a pesquisa vista também contribuir para uma discussão mais ampla a respeito da construção de teorias etnográficas do contrassincretismo (Goldman, 2017), partindo do contexto afro-religioso alagoano.