Associação de sintomas depressivos, solidão e trauma precoce com o comportamento suicida em pessoas trans.
pessoa transgênero, depressão, solidão, trauma precoce, ideação suicida, tentativa de suicídio.
Introdução: O comportamento suicida vai desde a ideação suicida, tentativas até o suicídio consumado. Segundo a Organização Mundial de Saúde mais de 700 mil pessoas morrem por ano no mundo, sendo a terceira principal causa de óbitos em ambos os sexos na faixa etária dos 15 a 29 anos. No Brasil no período de 2010 a 2019 houve aumento na taxa de suicídio de 26,3%. Grupos de minorias sexuais e de gênero são predispostos a maior comportamento suicida, especialmente transgêneros.
Objetivos: Investigar a associação entre comportamento suicida e fatores de risco, como sintomas depressivos, percepção de solidão e histórico de traumas na infância e adolescência, em pessoas trans binárias e não binárias no Brasil.
Métodos: Este estudo transversal analítico envolveu o autopreenchimento de questionário online, versando sobre questões sociodemográficas, depressão (PHQ9- Patient Health Questionaire), sentimento de solidão (UCLA – Escala de Solidão (versão 3) da UCLA BR), trauma precoce (CTQ- Childhood Trauma Questionaire) e comportamento suicida (ideação e tentativas) por usuários trans binários e não-binários brasileiros, acima de 18 anos. Para a análise estatística, os participantes foram divididos em dois grupos de acordo com a gravidade do comportamento suicida, e três de acordo com a identidade de gênero. A análise inferencial envolveu testes não paramétricos e o teste qui-quadrado.
Resultados: Dentre os 285 participantes, 127 eram homens trans, 90 mulheres trans e 68 não binários. Do total da amostra, 70,9% tinham entre 18 a 29 anos, 40,7% eram afrodescendentes, 81,1% eram solteiros, 47% estudaram até educação básica, 44,2% estavam desempregados, 83,9% não possuíam religião. Dentre o total de participantes, encontrou-se que 83, 2% apresentavam depressão moderada a grave, 80% sentiam solidão de moderada a grave, 53% apresentaram abuso emocional e 49,9% relataram histórico de abuso sexual.
Houve maior prevalência de comportamento suicida moderado à grave em jovens de 18 a 29 anos (p=0,036), portadores de depressão moderada à grave (p<0,001), com história de abuso emocional (p<0,001) e abuso sexual (p=0,008). Os principais fatores protetores identificados foram: escolaridade superior (p=0,009), estar engajado no mercado de trabalho (p=0,003), realizar hormonização (p<0,001) e ausência de comorbidades (p<0,001).
Conclusão: A amostra apresenta uma alta prevalência de depressão, solidão, traumas precoces e comportamento suicida. Participantes com comportamento suicida clinicamente significativo apresentaram maior gravidade de sintomas depressivos, como também maior histórico de abuso emocional e abuso sexual.