AS REDES DE SENTIDO ENTRE CIÊNCIA, CONHECIMENTO E UNIVERSIDADE EM TEMPOS DE DISCURSO NEGACIONISTA
Discurso. Universidade. Negacionismo. Ciência. Governo Bolsonaro.
Esta tese tem como objetivo analisar o funcionamento do discurso sobre a universidade e a ciência no governo Bolsonaro (2018-2022). Para alcançar esse objetivo, analisamos os discursos de quatro ministros da educação sobre as eleições para reitores, sobre os cortes de verbas das universidades, sobre os ataques a determinadas temáticas e teóricos e, também, o negacionismo científico. O discurso bolsonarista no campo educacional foi desenhado tanto no período que levou ao golpe de Estado no Brasil em 2016, desencadeado por uma crise econômica e política que culminou no fim da era petista (2003-2015); como no período do Pós-Golpe, que primou pela execução de inúmeras reformas de cunho educacional, trabalhista e previdenciário. Ademais, o Brasil vivenciou uma eleição presidencial turbulenta em 2018, tendo como candidato eleito Jair Messias Bolsonaro. Este panorama conflituoso determinou a escolha do nosso objeto de pesquisa. O que assistimos hoje em dia é resultado de uma crise mundial instalada desde 2008, em que o conservadorismo avança, gerando o aprofundamento da política neoliberal. Estabelecemos como vínculo teórico e metodológico a Análise do Discurso de perspectiva pecheuxtiana, dialogando com os trabalhos pioneiros de Pêcheux (1969, 1975, 1983) e Orlandi (2007, 2012, 2014), entre outros autores. O corpus de nossa pesquisa é constituído de 28 materialidades discursivas retiradas das falas dos quatro ministros da educação. Compreendemos que seus dizeres produzem o mesmo efeito de sentido, filiando-se à manutenção do dualismo educacional universidades para a elite e ensino profissionalizante para a massa e a privatização do ensino superior brasileiro. Observamos também que apesar do presidente Jair Bolsonaro ter substituído seus ministros com certa frequência, todos defendem em seus dizeres a restrição da universidade para poucos, aquilo que a classe dominante sempre desejou. Com isso, seu governo dá continuidade aos desmontes iniciados no Pós-Golpe de 2016, em que diversos direitos foram derrubados, sucateando cada vez mais a educação pública no Brasil. Em nosso gesto de interpretação, vimos que o discurso negacionista atuou no funcionamento do discurso sobre as universidades, sobretudo durante a pandemia do coronavírus - Covid 19, quando a ciência foi duramente rechaçada pelo governo Bolsonaro.