Conservação biocultural de Myrciaria floribunda (H. West ex Willd.) O. Berg: contribuições ecológicas, socioeconômicas e comportamentais
Plantas alimentícias silvestres. PAS. Plantas comestíveis. Conservação biocultural. Extrativismo sustentável. Myrciraria floribunda. Cambuí. Expectativa do consumidor. Avaliação sensorial. Estrutura populacional.
As Plantas Alimentícias Silvestres (PAS) possuem grande potencial para a alimentação humana, porém são subutilizadas, principalmente em áreas urbanas. Resultando em dietas pouco diversificadas e erosão do conhecimento sobre essas plantas. No entanto, elas oferecem benefícios nutricionais, ecológicos e sociais. Então, para aproveitar esse potencial, esta pesquisa buscou, a partir de uma abordagem interdisciplinar, fornecer bases teóricas e aplicadas para promover a conservação biocultural de Myrciaria floribunda (H. West ex Willd.) O. Berg (cambuí). Essa tese é composta por três capítulos. O capítulo 1 é ancorado pela etnobiologia e ecologia, explorando a sustentabilidade da coleta da espécie, e os dois seguintes têm como foco a psicologia do consumidor, explorando a relação entre pistas extrínsecas, expectativas e disposição a consumir. A tese abarcou extrativistas e potenciais consumidores do cambuí. No primeiro artigo, avaliamos a estrutura populacional do cambuí em Piaçabuçu (AL) e identificamos, a partir da percepção local, áreas de coleta, histórico de disponibilidade, causas de diminuição e possíveis soluções. Os resultados apontam que o extrativismo do fruto de cambuí está no limiar entre sustentável e não sustentável. Além disso, desmatamentos e queimadas contribuem para a diminuição dos indivíduos. No capítulo 2, a partir de uma amostra nacional, buscamos entender se a associação terminológica de um suco a base de PAS a uma fruta convencional ou a ambientes florestais, influencia nas expectativas de potenciais consumidores. No capítulo 3, focamos na região metropolitana de Alagoas para compreender melhor o contexto local e, investigar as expectativas e percepções dos consumidores. Também testamos a influência terminológica avaliada no capítulo 2, além de testar se a associação gastronômica (através de misturas) de sucos a base de PAS com sucos convencionais influencia nas expectativas e aceitação. Os resultados dos capítulos 2 e 3 sugerem que, em alguns casos, os nomes atribuídos aos produtos interferem nas expectativas sobre eles ou na sua aceitação. Por exemplo, a associação terminológica de um produto à ambientes florestais (nomes com sufixos da mata ou da floresta) podem gerar expectativas negativas em relação ao sabor entre os indivíduos mais neofóbicos. Além disso, o capítulo 3 evidenciou que misturas gastronômicas ampliam a aceitação do produto. Desse modo, existe um amplo potencial para aumento do interesse no cambuí a partir da sua introdução em misturas com frutas convencionais e a partir de estratégias de marketing que foquem no papel das pistas extrínsecas. No entanto, essas estratégias devem vir acompanhadas de planos de manejo sustentável, considerando o cenário de ameaças identificadas para a espécie. O beneficiamento de produtos para atingir novos mercados pode ser uma estratégia economicamente e ambientalmente viável, pois foca na agregação de valor em vez de focar no aumento da coleta. Nesse contexto, é interessante que no marketing, o produto seja associado a um produto popularmente conhecido, para familiarizá-lo aos novos consumidores.