AS PESCADORAS, O SURURU E A LAGUNA MUNDAÚ: CONHECIMENTOS E COEXISTÊNCIA.
Essa dissertação é o resultado de uma pesquisa na região da margem da laguna Mundaú, no bairro do Vergel do Lago – Maceió/AL, junto com pescadoras que trabalham com a pesca de sururu, um molusco comumente encontrado sobre a lama na água salobra de regiões com aporte de matéria orgânica que lhes garante a vida. A pesquisa busca compreender as práticas e a construção de conhecimento das pescadoras de sururu, a partir da forma como é organizado o trabalho, entendendo a coexistência como a condição fundamental para a captura do animal. Toma como caminho três aspectos específicos: a atenção e o desenvolvimento das habilidades pelas pescadoras; a materialidade do emaranhado de coisas trazidas à vida pela pesca; a co-relação de forças e a transformação do ambiente. O trabalho inicia com a questão sobre a forma como pescadores eram retratados sem identidade, como coitados ou corajosos desbravadores do ambiente; às pescadoras restando então a invisibilidade. Contudo, a presença dessas mulheres é observada como fundamental para a continuidade e transformação do trabalho, afinal elas estão presentes em todas as etapas da pesca. Além disso, são apresentados aspectos gerais sobre o universo da pesquisa, a forma como as pescadoras fazem com que a laguna chegue à mesa, à história, à memória afetiva de alagoanos. Sendo elas a representação de uma laguna que parece com uma grande mãe, recebe e sustenta, humanos e não humanos, tornando-os partes intrinsecamente ligadas, como os fios que formam uma mesma trama. As pescadoras fazem a ligação entre a laguna e a população, tornado a todos também convivas. Tendo como referência fundamental o antropólogo Tim Ingold, para pensar novos paradigmas ecológicos que partem de um ambiente sem objetos, mas permeados de coisas, que possuem vida em combinações e adequações próprias a partir de superfícies que se transbordam e coexistem.
Mulheres, Pescadoras, Laguna, Coexistência, Meio Ambiente.