AS “CULTURAS POPULARES” COMO ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA: UMA ETNOGRAFIA COM AS MESTRAS DO RPV/AL
mestras da cultura popular e tradicional, RPV/AL, hierarquização da cultura, mediação e assimetrias.
O Registro do Patrimônio Vivo de Alagoas (RPV/AL) é uma política pública de cultura de âmbito estadual, implementada no contexto de institucionalização do reconhecimento do patrimônio imaterial no Brasil a partir do decreto 3551 nos anos 2000, que instituiu uma metodologia específica para o reconhecimento de bens culturais dessa natureza ao lançar o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI). Desde então, mestras e mestres da “cultura
popular” e da “cultura tradicional” passaram a ser reconhecidos como Patrimônio Vivo pelo governo do estado. Entretanto, para obter o reconhecimento e ter acesso aos direitos garantidos pelo Registro, muitas dessas pessoas dependem de mediação. Isso ocorre pela incompatibilidade entre os trâmites necessários para a realização das inscrições e a autonomia desse público alvo perante a eles. A relação de mestras e mestres com o Estado se configura dentro de um jogo de forças assimétricas de poder. Além disso, uma série de assimetrias é identificada na análise da implementação do RRV/AL. Essas assimetrias estão relacionadas a um processo de hierarquização da cultura. Nesse processo, respeitada a heterogeneidade de suas trajetórias, as mestras ocupam um lugar periférico de onde emergem narrativas acerca da utilização da “cultura popular” como estratégia de resistência às opressões enfrentadas por elas.