“A CIÊNCIA DA TRADIÇÃO”: patrimônio e transmissão de conhecimento entre o povo indígena Jiripankó.
Saberes. Etnicidade. Jiripankó. Patrimônio. Tradição.
Localizado territorialmente na zona rural do município de Pariconha, no alto Sertão de Alagoas, o povo indígena Jiripankó, tem sua história permeada por múltiplos processos de idas e voltas, de continuidades e descontinuidades e estratégias políticas, religiosas, culturais. Além de um complexo sistema religioso e ritualístico, denominado pelo grupo étnico de “ciência da tradição”, que modela e constrói suas identidades e reforça o pertencimento étnico. Os eventos ritualísticos, abertos aos membros do grupo, aos parentes e aos não-indígenas, são espaços de estabelecimento de elo com o sagrado – os Encantados, seres que protegem e guiam os Jiripankó, com o pagamento de promessas, a realização de outras, o pedido conselhos e orientações e a construção de alianças políticas e religiosas. Nesta pesquisa, tenho como objetivo investigar como a “ciência da tradição” é um patrimônio para os Jiripankó. Descreverei de qual forma esse patrimônio está envolvido em processos simbólicos e é portador de significados, produzidos historicamente e em situações e contextos específicos. A partir de dois rituais, Menino do Rancho e as Corridas do Umbu, intenciono explorar como os significados sobre a tradição são elaborados. Além de identificar o gerenciamento desse patrimônio, através da transmissão de saberes. Para tanto, realizarei uma etnografia de cunho qualitativo, com observação participante, realização de entrevistas, registro etnofotográfico e videográfico, elaboração de diário de campo e pesquisas em
acervos e arquivos públicos. Ainda na metodologia, pelas circunstâncias sanitárias, irei utilizar da etnografia digital para produzir dados, a partir da comunicação com os membros do grupo e da investigação das suas publicações nas redes sociais, principalmente em postagens com a temática dos rituais. Como base teórico-metodológica, irei utilizar dos estudos e reflexões de: Claudia Mura (2013), Fredrik Barth (2005; 2011; 2003), João Pacheco de Oliveira (1999; 2004; 1988; 2016), José Adelson Lopes Peixoto (2018a; 2018b; 2019;2020), José Maurício Arruti (1996; 1995), José Reginaldo Santos Gonçalves (1996; 2012; 2009), Laurajane Smith (2006; 2017), Siloé Amorim (2017; 2003) e Yuri Rodrigues (2020). Por fim, esta pesquisa apresentará uma parcela da riquíssima cosmologia dos Jiripankó, e sua composição como Patrimônio, apresentando seus mecanismos e organizações, datados de diferentes capilaridades. A tradição religiosa dos Jiripankó é vivida no cotidiano e, principalmente, através dos rituais, assim as técnicas de transmissão de conhecimento são acionadas, para a continuidade daquela tradição.