A batida no chão, O subir da poeira, O clamor da oração: pertencimento e memória na construção do ritual de São Gonçalo.
Combinando os estudos de antropologia religiosa, memória e performance, o texto examina o universo das inserções e negociações vivenciadas por um grupo de devotos de São Gonçalo, situado na região rural e serrana de Água Branca/AL. Interroga-se, neste aspecto, sob que condições o ritual da dança de devoção ao Santo passa a ser referência à construção das identidades coletivas (grupo portador) ao mesmo tempo que concebe alianças com outras comunidades, promovendo a continuidade da prática tradicional junto às novas gerações. Essa questão sugere, num primeiro momento, duas hipóteses: por um lado, que a construção dessas identidades coletivas responde a um universo de sociabilidade religiosa, em que práticas devocionais são significadas, vividas nas interações familiares e comunitárias que conjuntamente fomentam formas de agir e de pensar coletivamente; por outro lado, a proximidade dos atores locais, as relações de parentescos e a natureza dos pagamentos de promessas dão contributos às dinâmicas de enraizamento dessa prática mesmo quando articulada em contextos outros que não o religioso. Nesse sentido, a etnografia em profundidade e a observação participante foram indispensáveis, sobretudo, para o acompanhamento direto das mudanças que iam reconfigurando os sentidos e os episódios sucessivos das dinâmicas relacionadas a performance ritualística. Assim, percebeu-se que mesmo diante de adversidades, o grupo encontra em diferentes espaços de sociabilidade, formas inéditas e efetivas de
ressonância a devoção ao santo.
Dança de São Gonçalo; identidade coletiva; sociabilidade religiosa; memória; devoção