CEMITÉRIO COMO ESPAÇO DE PERTENCIMENTO DAS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS – uma etnografia dos enterramentos de povos de terreiro na Maceió do século XXI
Cemitérios; religiões de matrizes africanas; assimetrias; Maceió-AL;
As sociedades humanas desenvolvem formas bastante diversificadas de encarar a morte e, consequentemente, de como lidar com a separação física do corpo. Diante disso, os sepultamentos têm se configurado, de diferentes formas, como uma das práticas mais usadas para essa finalidade. Até o início do século XIX, os enterramentos costumavam acontecer nas igrejas. Sob alegações da existência de odores fétidos, políticas higienistas foram implementadas e os enterramentos passaram a ser realizados em locais específicos, os cemitérios. Desde o seu surgimento, as necrópoles, em sua grande maioria, apresentam um cenário simbólico imagético voltado às religiões cristãs enquanto as religiões de matrizes africanas foram e ainda são subalternizadas dentro desses espaços. Essa realidade é ainda mais problemática nas necrópoles de Maceió, marcadas pelo silênciamento quando realizadas comparações com as reivindicações existentes em outras cidades do Brasil em relação à ocupação desses espaços – a capital alagoana sofreu a destruição de inúmeros terreiros e as mortes de filhas e filhos de santo, no massacre que ficou conhecido como O Quebra de Xangô de 1912. O presente trabalho versa acerca de tensões e assimetrias que marcam, portanto, a utilização dos cemitérios pela comunidade do povo de santo nessa cidade.