CIÊNCIAS COMPORTAMENTAIS NO SETOR PÚBLICO: EVIDÊNCIAS SOBRE A TEORIA DOS PROSPECTOS E A UTILIZAÇÃO DO DISSIDENTE ESTRATÉGICO NA GOVERNANÇA
Teoria dos Prospectos; heurísticas; vieses; governança no setor público; dissidente estratégico.
O alicerce da Teoria Econômica é fundamentado na racionalidade do ser humano. No entanto, as ciências comportamentais mostram que o indivíduo toma decisões que fogem ao modelo racional. Assim, esta pesquisa tem por objetivo investigar e descrever a manifestação de heurísticas e vieses comportamentais em servidores da administração pública brasileira, em cenários de decisão sob condições de risco, e, numa segunda etapa, tem o objetivo de analisar a utilização do dissidente estratégico como instrumento comportamental para evitar ou reduzir decisões enviesadas dentro do modelo de governança do setor público. O estudo foi realizado pelo método experimental, com a manipulação intencional de variáveis independentes em grupos de comparação randomizados. Participaram da pesquisa 162 servidores de uma instituição pública federal com sede no estado de Alagoas. A primeira etapa da pesquisa foi realizada com base na Teoria dos Prospectos. Os resultados sugerem que os participantes foram influenciados pelo efeito de enquadramento, pela heurística da ancoragem, pelo viés da dominância proporcional e pelo viés da dominância assimétrica. Não foram encontrados indícios do viés do status quo durante os experimentos. Na segunda etapa da pesquisa, observou-se que um cenário formado por um grupo de pessoas cujas opiniões são divergentes não foi suficiente para criar a dissonância cognitiva capaz de reduzir o viés de confirmação, o pensamento de grupo e a escalada de compromisso. No entanto, foram encontradas evidências de que a utilização do dissidente estratégico modificou a escolha dos servidores participantes da pesquisa, impedindo ou minimizando a manifestação de vieses no ambiente organizacional da governança pública. Além disso, a idade, o tempo de trabalho e o sexo dos servidores que participaram da pesquisa não tiveram influência sobre a ação do dissidente. Concluiu-se que servidores públicos brasileiros participantes deste estudo científico não seguiram estritamente o modelo racional em suas escolhas, violando a Teoria da Utilidade Esperada, e que a utilização do dissidente estratégico foi necessária para reduzir decisões enviesadas que poderiam impactar ações na governança pública. Este estudo contribui na esfera teórica com novas evidências para a compreensão de fenômenos comportamentais na administração pública e com o fomento de discussões acadêmicas para melhorar a arquitetura de escolhas na gestão pública. As descobertas também apontam para a relevância de se considerar um pilar comportamental no modelo de governança pública brasileira. No campo prático, as evidências colaboram no sentido de auxiliar a gestão pública a entender as limitações cognitivas dos servidores e a implementar rotinas e processos que possam otimizar decisões norteadas pelo uso eficiente e eficaz dos recursos públicos, como preconizado pelo modelo de governança pública.