RELAÇÕES DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO INFANTIL/ EDUCACIÓN INICIAL: ESTUDO COMPARADO ENTRE BRASIL E ARGENTINA
Educação Infantil. Gênero. Sexualidade. Brasil. Argentina
Esta pesquisa objetivou comparar a educação para crianças em gênero proclamada nos documentos legais e descrita pelos/as pesquisadores/as, professoras, gestoras e crianças do Brasil e da Argentina. Os objetivos específicos deste estudo, por sua vez, foram: comparar os documentos legais destinados à educação das crianças do Brasil e Argentina, verificando a presença e/ou ausência da categoria de gênero; analisar as políticas públicas educacionais em gênero no Brasil e na Argentina com foco para as crianças da Educação Infantil (0 a 5 anos e 11 meses); identificar e examinar como os/as pesquisadores/as argentinos/as e brasileiros/as descrevem a categoria de gênero na educação de crianças de 0 a 5 anos de idade; compreender quais as similitudes e divergências da educação de crianças nesses dois países, considerando os aspectos sociais, culturais, econômicos, históricos, políticos e educacionais em suas especificidades. A problemática da pesquisa foi a seguinte: quais são as configurações da educação em gênero para crianças, registrada nos documentos legais e descrita por meio da compreensão de pesquisadores/as do Brasil e da Argentina?. As hipóteses foram comprovadas no que se refere à educação como um contexto caracterizado por relações patriarcais de poder, estando associada a aspectos referentes ao processo histórico, político e educacional, calcados em uma perspectiva machista, binária, sexista, classista e racista, a qual impõe modelos de comportamento para meninos e meninas desde a mais tenra idade. Concomitantemente, os caminhos metodológicos são cunhados na epistemologia feminista, pesquisa de tipo qualitativa e abordagem referente a um estudo comparado em educação. As técnicas de coleta dos dados são entrevistas semiestruturadas realizadas com quatro pesquisadoras brasileiras e dois/duas argentinos/as; três professoras de Educação Infantil (uma brasileira e duas argentinas) e duas diretoras de ambos os países e que trabalham em escolas pública e particular; além de observação participante com as crianças e registro em diário de campo. Em seguida, realizou-se uma análise dos documentos norteadores de Educação Infantil/Educación Inicial e de gênero de ambos os países, estabelecendo uma triangulação dos dados por meio da técnica de Análise Textual Discursiva, aliada à educação comparada, considerando a categoria de interseccionalidade. Foi realizado um intercâmbio de seis semanas na Argentina, o que possibilitou ampliar o olhar e construir sentidos de compreensão acerca do objeto de tese. Não obstante, nossas protagonistas são as crianças que ora transgridem a lógica heteronormativa dominante, ora reproduzem-na por meio das brincadeiras e das interações, sendo de suma importância pensar nas infâncias em suas inteirezas, educando sob uma perspectiva valorativa de gênero e sexualidade enquanto resistência das violências, inclusive no que tange à prevenção ao abuso sexual infantil. A pesquisa demonstrou que a Argentina possui leis de educação sexual integral e políticas de gênero desde a infância, as quais, embora enfrentem resistências, são reais e estão em processo de aplicabilidade; já no Brasil parece haver um silenciamento acerca de gênero e de sexualidade infantil. Por fim, é apresentada uma carta aberta ao público com orientações e sugestões de como educar crianças com lentes de gênero e sexualidade, com o intuito de compartilhar os resultados da pesquisa de forma acessível e de fácil compreensão a docentes, famílias e todos/as que se interessem pela temática.