Percorrendo as (entre)linhas da cidade: O Centro de Aracaju através da pegação
corpo-cidade; montagem urbana; discurso; centro de aracaju; pegação.
Ancorada numa perspectiva crítica que dialoga com a filosofia da diferença, com as teorias
queer e feminista, e com os estudos decoloniais, a dissertação propõe uma investigação contra-
hegemônica dos espaços habitados, tendo como mote as experiências de deambulação de um
pesquisador-flâneur gay percorrendo as (entre)linhas do Centro de Aracaju, atravessando as
ruas da cidade noturna e três locais de pegação da região – uma sauna gay, uma lan house e um
cine erótico. Tal perspectiva pressupõe não o apaziguamento, mas a compreensão e a
explicitação das relações de poder que estão em jogo nas práticas de normatização das cidades
contemporâneas, propondo pensar a cidade em sua heterogeneidade, como algo múltiplo, uma
montagem de indícios, estratos, fragmentos de múltiplas temporalidades, de narrativas, de
discursos, que se sobrepõem, concorrem e entram em conflito. A pesquisa, então, toma o Centro
de Aracaju como espaço de problematização para tratar das temporalidades e apropriações
espaciais a partir das vivências cotidianas que habitam as entrelinhas, os vazios, os interstícios,
as amnésias, as brechas da cidade, para além, ainda que entrelaçadas, da paisagem patrimonial
ou da dimensão material do espaço construído. O intuito é tensionar as discriminações que
terminam sendo legitimadas pelas práticas metodológicas vigentes no campo disciplinar da
arquitetura e urbanismo, que repercutem até hoje os resquícios de uma lógica funcional e do
progresso técnico, com funções claramente controladoras, normativas e ordenadoras, que
tendem a produzir uma compreensão positivista, simplificadora e homogeneizante das cidades.
Por isso, buscamos estabelecer outras epistemologias de partida, implicando tanto numa outra
relação com o pensamento arquitetônico e urbanístico, que o entende como corporificado,
localizado, não-universal, quanto com as metodologias que dele decorrem e a ele sustentam.
Nesse sentido, um dos nossos percursos de investigação se debruça justamente na necessidade
de pensar outros modos de cartografar tais questões, compreendendo a cartografia a partir da
perspectiva rizomática de Deleuze e Guattari. Tendo em vista que a produção deste texto
também é uma forma de questionar tais aspectos, a dissertação distorce os seus objetivos, a
estrutura, a epistemologia e os métodos de investigação em processos caleidoscópicos de
pesquisa e em (des)(re)montagens urbanas, inspirados pelos experimentos de Paola Jacques. A
partir dessas questões, a dissertação busca tecer linhas de fuga com o intuito de explorar a
potência dos territórios urbanos dissidentes para rever a história das cidades, para abrir espaços
para reescrituras, e para que outras narrativas, outras formas de ser, de viver, de habitar o
espaço, sejam contadas.