Patrimônio e paisagem em transformação: as cercas dos conventos franciscanos do Brasil e suas inserções nas
cidades
cerca franciscana; convento franciscano; patrimônio; turismo sustentável; preceitos ancestrais.
As problemáticas contemporâneos evidenciam a urgência de transformar a
maneira como as reservas de fauna e flora são concebidas. Diante da crise
ambiental estabelecida, que aponta para o surgimento de uma nova era
geológica, denominada antropoceno, essa transformação se apresenta como
uma necessidade inadiável. Esta tese analisa um conjunto patrimonial de grande
relevância para a história do Brasil, tratando dos 28 conventos franciscanos
históricos situados no Nordeste e Sudeste do país, que foram tombados total ou
parcialmente a nível federal ou estadual por seus valores artísticos e
arquitetônicos, mas que também são notáveis pelas suas áreas de “cerca”.
Originalmente, essas cercas, que eram fundantes, desempenhavam importante
papel para a automanutenção dos conventos, provendo a casa de alimento, água
e materiais de construção; assim como se caracterizavam como lugar íntimo e
sacro, também sendo espaço para a realização de rituais litúrgicos. Atualmente,
elas se destacam como áreas vegetadas em meio a centros urbanos
densamente ocupados, como as capitais de Salvador e Rio de Janeiro, mas
enfrentam crescentes ameaças diante das demandas urbanas por espaço, por
não serem concebidas enquanto patrimônio a ser preservado. Essa concepção
apresenta uma problemática mais ampla: na contemporaneidade, as áreas de
fauna e flora são constantemente entendidas como recursos a serem
explorados. Apesar da relevância histórica, paisagística e ecológica, muitas
cercas estão em risco de desaparecimento – sete delas, inclusive, já não existem
mais. Diante desse cenário, esta tese reflete o esforço de caracterizar as cercas
conventuais franciscanas brasileiras, traçando um panorama nacional sobre elas
bem como explorando suas singularidades, com o objetivo de contribuir para o
reconhecimento e a preservação desses espaços. Adota-se uma pauta
metodológica baseada em extenso trabalho de campo, realizado em todas essas
28 localidades distribuídas entre a Paraíba e São Paulo, mas também se valendo
da exploração de fontes primárias textuais e imagéticas, que vêm sendo reunidas
pelo Grupo de Pesquisa Estudos da Paisagem, da FAU – UFAL, há mais de duas
décadas. Espera-se que os resultados e as discussões levantadas com esta
pesquisa contribuam com a formulação de estratégias para a integração dessas
cercas na vida cultural das cidades, com foco no turismo sustentável e no
respeito a preceitos ancestrais, enfatizando sua atmosfera sacra e os elementos
do habitar que, embora negligenciados, permanecem essenciais.