VERTICALIZAÇÃO E AMBIENTE TÉRMICO URBANO: estudo de cânions urbanos integrados à abordagem bioclimática em cidade de clima semiárido.
Microclima; Cânion Urbano; Conforto Térmico ao Ar Livre; Clima Semiárido; ENVI-met; Arapiraca/AL.
O aumento populacional nos centros urbanos brasileiros tem impulsionado um gradativo processo de modificação do ambiente natural para o construído, que se intensifica nas cidades médias (população entre 100 e 500 mil habitantes). Essas transformações condicionam um clima típico urbano, muitas vezes caracterizado pelo aumento da temperatura do ar, fenômeno denominado ilhas de calor urbano (ICU). A verticalização apresenta-se como uma alternativa para viabilizar o aumento de densidade populacional, porém demanda a conformação de condições microclimáticas favoráveis ao conforto térmico no nível do pedestre, nos cânions urbanos. No planejamento urbano tradicional, o lote é a principal referência para o parcelamento do solo, enquanto a literatura aponta o modelo de cidade compacta como o mais sustentável e resiliente. Assim, a presente pesquisa teve como objetivo analisar a influência da verticalização nas condições de conforto térmico ao ar livre na escala do pedestre, considerando aspectos da forma urbana (geometria urbana e uso de vegetação), no contexto climático semiárido de Arapiraca/AL. Utilizou-se uma abordagem metodológica preditiva, fundamentada na simulação computacional de 16 cenários urbanos hipotéticos, elaborados a partir de uma fração urbana real com tendência à verticalização, tendo sido utilizado o software ENVI-met como ferramenta. Adotou-se o lote como unidade mínima de planejamento para a elaboração dos cenários, considerando-se a influência da geometria urbana e do uso de vegetação no microclima de cânions urbanos, utilizando parâmetros urbanísticos tradicionais e avançados e duas formas distintas de remembramento dos lotes. As variáveis climáticas analisadas foram: temperatura e umidade relativa do ar; temperatura radiante média e velocidade e direção dos ventos. Além disso, também foi calculado o índice de conforto PET. Foi desenvolvida a análise quantitativa e qualitativa comparativa do comportamento climático das variáveis consideradas nos diferentes cenários simulados (às 9h, 15h e 21h) e a análise de correlação entre os parâmetros climáticos e urbanísticos. Os resultados indicaram o Fator de Céu Visível (FCV) e o Índice de Densidade Arbórea (IDA) como as variáveis mais influentes no comportamento das variáveis climáticas. Observou-se que dentre os parâmetros de modelagem dos cenários urbanos hipotéticos, o tipo de remembramento dos lotes e o formato dos edifícios podem potencializar os benefícios advindos da estratégia de maior influência na conformação do microclima do cânion urbano: a inserção de vegetação. Entretanto, foram identificadas limitações quanto a amenização climática proporcionada pela inserção da vegetação, relacionadas à configuração da calçada e áreas permeáveis disponíveis no solo urbano existente. A composição de uma Infraestrutura Verde influencia na amenização térmica das variáveis climáticas analisadas, ao passo que permite a redução do FCV, mantendo uma massa edificada que potencialize a permeabilidade dos ventos na malha urbana. Desse modo, evidencia-se a imprescindibilidade da análise do desempenho bioclimático da forma urbana no processo de planejamento das cidades, assim como a emergente necessidade de revisão dos instrumentos de uso e regulação do solo urbano, a fim de gerar cidades sustentáveis e resilientes. |