Interações do uso e cobertura do solo nas dinâmicas térmicas
em cidade tropical costeira: estudo de caso em Maceió, Alagoas, Brasil
Clima Urbano, Sensoriamento Remoto Termal, BEAST, Dynamic World.
O crescimento urbano desordenado impacta diretamente o conforto ambiental nas cidades,
influenciando variáveis como temperatura, umidade e circulação de ar. Em meio a esse
contexto, a urbanização intensifica fenômenos adversos como a formação de ilhas de
calor urbanas, enquanto fatores climáticos muitas vezes são negligenciados nos processos
de planejamento urbano. Assim, torna-se essencial monitorar a morfologia urbana e
as variáveis climáticas associadas, tarefa que encontra no sensoriamento remoto uma
ferramenta eficiente e acessível. Esta tese teve como objetivo analisar as dinâmicas térmicas
da cidade de Maceió/AL entre 2000 e 2023, com foco na relação entre a temperatura da
superfície terrestre (LST) e o uso e cobertura do solo (LULC), bem como investigar quais
variáveis atmosféricas e ambientais modulam o comportamento térmico da superfície. Para
a primeira etapa, séries temporais da LST foram decompostas utilizando o algoritmo
BEAST, a fim de identificar tendências, sazonalidades e pontos de inflexão relacionados
a eventos urbanos relevantes, como a subsidência do solo e a consequente remoção de
bairros. Na segunda etapa, aplicou-se o coeficiente de correlação de Pearson para avaliar
a influência de variáveis como NDVI, precipitação, fração de nuvens, vapor d’água e
anomalias de temperatura oceânica (NINO3) sobre a LST diurna e noturna.Os resultados
da análise temporal indicaram um aumento de 0,85°C na tendência da LST noturna para
as áreas urbanizadas entre 2016 e 2024, enquanto a LST diurna apresentou uma redução
de 0,20°C no período de 2021 a 2024, coincidente com as grandes realocações populacionais.
No segundo bloco de análises, a LST diurna mostrou forte correlação negativa com o
NDVI (r = -0,89) e com a precipitação (r = 0,59), enquanto a LST noturna apresentou
correlação positiva significativa com o vapor d’água atmosférico (r = 0,40). A influência
de fenômenos globais, como o El Niño, foi secundária em comparação aos fatores locais. A
análise espaço-temporal do NDVI revelou três fases distintas: (1) uma queda acentuada
entre 2000 e 2015, associada à expansão urbana e à intensificação agrícola; (2) um ponto
de inflexão entre 2017-2018, relacionado ao fechamento da Usina Cachoeira do Meirim;
e (3) uma fase de recuperação vegetal de 2018 a 2025. O efeito de ilha de calor urbana
ficou evidenciado pela menor correlação negativa entre NDVI e LST noturna nas áreas
densamente urbanizadas, indicando a persistência do armazenamento térmico urbano.
Conclui-se que a metodologia adotada oferece uma base robusta para o monitoramento de
dinâmicas térmicas urbanas e subsidia estratégias de mitigação climática e de planejamento
urbano mais sustentável para cidades tropicais.