O CHÃO QUE EU PISO DO LADO DE FORA: O BRINCAR INFANTIL, A SEGURANÇA E A RUA NO BAIRRO SANTO ANTÔNIO EM ARACAJU/SE
brincar infantil, segurança, rua, playstreet, MEAC
Historicamente, as ruas são descritas como espaços vibrantes de lazer infantil, contudo, a predominância do carro e da percepção da insegurança atribuem às ruas a qualidade de meros corredores de tráfego, limitando a presença das crianças. Tomando como base metodológica a Metodologia Ergonômica do Ambiente Construído (MEAC), esta pesquisa adota uma abordagem qualitativa para analisar a existência e características da atividade brincante no bairro Santo Antônio, em Aracaju/SE. Partiu-se do pressuposto de que o brincar livre é essencial para o desenvolvimento infantil, mas encontra-se cada vez mais suprimido em detrimento das condições de segurança e do modo de vida urbano contemporâneo. O estudo examina as características físicas das ruas, as práticas e percepções de adultos e crianças e os tipos de brincadeiras visando identificar padrões que favorecem a atividade brincante como elemento de socialização e uso saudável do espaço da rua. Foram discutidos conceitos e implicações de modelos como Play Streets, Ruas de Lazer e “locais não para” contextualizando-os à realidade da pesquisa. Para a coleta de dados de campo, foram realizadas observações sistemáticas e mapas comportamentais, além de entrevistas semiestruturadas. Somando-se os episódios registrados, a amostra contou com 13 adultos e 8 crianças diretamente entrevistados. Os resultados evidenciam que as brincadeiras ocorrem sobretudo de maneira espontânea, em locais não planejados para essa finalidade, revendo a capacidade das crianças de ressignificar os espaços. Constatou-se ainda que a morfologia tradicional do bairro, com edificações alinhadas às calçadas e ausência de recuos, favorece encontros, vizinhança e supervisão, embora também crie desafios de ordem de conforto ambiental no interior das residências como de acessibilidade. Conclui-se que, mesmo diante de restrições contemporâneas, a rua pode ser legitimada como território do brincar, desde que haja infraestrutura mínima e fortalecimento das redes de vizinhança. As recomendações derivadas do estudo não configuram um modelo único, mas diretrizes sensíveis ao contexto local, capazes de ampliar a autonomia infantil e resgatar a dimensão pública e coletiva da rua.