Entre tempos, dinâmicas, territórios: um encontro com o Penha
Povoado Penha. Territórios. Dinâmicas. Escutas. Tempos
Este trabalho de tese traz como estudo central o Povoado Penha, situado na cidade de
Riachuelo, Sergipe, Brasil, onde existe um bem patrimonializado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1943, possuindo a nomenclatura de Capela de
Nossa Senhora da Conceição do antigo engenho Penha. O objetivo principal do trabalho é
reconhecer outros territórios do Penha para além de seu espaço físico, seja nas relações dos
moradores com a espacialidade, com a antiga capela, com a natureza, nas lembranças... A
construção da tese parte de uma inquietude resultante do embate entre os documentos
patrimoniais e conteúdos advindos de encontros e vivências no povoado, considerando o
empirismo e as escutas dos moradores – um olhar atencioso às falas que nos leva a outras
centralidades além daquelas reconhecidas institucionalmente. Propõe-se, portanto, a
consideração de outras dimensões de valores no reconhecimento de referências culturais –
construídas a partir de camadas no tempo, que vão desde as transformações do lugar, o
pertencimento dos moradores, apropriações, relações estabelecidas e não-estabelecidas.
Apresenta-se a prática da cartografia como uma possibilidade de encontro com essas
dimensões, enfatizando a importância dos moradores no desafio da preservação de
identidades, problematizando as relações e considerando também a intensidade de vínculos,
as contradições e complexidades ali existentes. E quando dilatamos o espaço em seus tempos,
o resultado é o encontro com um território em sua diversidade de referências, revelando
entornos outros e camadas de memória que narram outras histórias – seja na presença do
imaginário, da cidade dos mortos, da dor, nos percursos animados, nas águas, na terra, nos
contos, crenças, afetos, nos quintais de casa, nos locais onde se vê a antiga capela, e onde não
se vê também, nos vazios onde se observa o céu, nas ruas enfeitadas, nas vidas... – cada uma
com suas próprias características, em suas conexões amorfas. E assim, a edificação que um
dia foi capela amplia o seu sentido de existência diante dessa miríade de camadas entrepostas
e sobrepostas em várias escalas espaciais, temporais e imaginárias – constituindo o
reconhecimento de um território pelo olhar dos habitantes do Penha.