Constituições identitárias de mulheres negras
em coletivos de ativismo digital em Alagoas
Mulheres Negras; Discursos Envolventes; Coletivos Digitais; Identidade Negra
Esta pesquisa, fundamentada na Linguística Aplicada Indiscieplinar, da desaprendizagem e Implicada (Moita Lopes, 2006; Fabrício, 2006; Souto Maior, 2012), tem como objetivo analisar como os discursos que atravessam as constituições identitárias de mulheres negras alagoanas são produzidos e circulam em coletivos digitais de ativismo no Instagram. A pesquisa parte da compreensão de que as práticas de linguagem são constitutivas das identidades e atravessadas por discursos hegemônicos, aqui identificados nos discursos envolventes, que historicamente operam na exclusão e na marginalização de corpos negros, especialmente os femininos. A partir da crítica ao mito da democracia racial e de suas implicações para a constituição identitária da população negra (Nascimento, 1978; Collins, 2021), a dissertação problematiza como o racismo estrutural se manifesta de maneira difusa e simbólica, legitimando desigualdades ao mesmo tempo em que silencia suas origens. Nesse cenário, os Discursos Envolventes (Souto Maior, 2009, 2022, 2024) que recaem sobre a mulher negra, marcados por apagamentos, hiperssexualização e controle corporal (Fanon, 2008; Gonzalez, 2020; Bento, 2022; Hooks, 2019) constituem formas de violência que são, ao mesmo tempo, históricas e discursivas. Com base no dialogismo bakhtiniano (Bakhtin, 2003), nos conceitos de alteridade e signo ideológico, e nas contribuições dos Discursos Envolventes, a pesquisa propõe uma escuta ética das vozes que emergem nos contextos digitais de militância negra. Articulando os fundamentos dos estudos da linguagem com epistemologias negras e feministas (Davis, 2016; Collins, 2019; Gonzalez, 2020; Machado, 2007), busca-se compreender como os sentidos de resistência, pertencimento e empoderamento são construídos por meio das práticas discursivas desses coletivos, que funcionam como espaços de aquilombamento (Nascimento, 1998) e aquilombamento simbólico (Silva, 2025). Os objetos de análise são quatro coletivos digitais com atuação de mulheres negras em Alagoas. Esses coletivos atuam em dinâmicas híbridas entre os contextos on-line e offline, o que justifica a adoção da etnografia digital como metodologia (Ciborga, 2022), permitindo uma abordagem situada, interpretativista e implicada no registro das experiências dessas mulheres.